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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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esse horror po<strong>de</strong>ria sair algo bom.<br />

Ao subirmos a escadaria, percebi que ia ficando mais frio.<br />

A sua coleção <strong>de</strong> esculturas ficava no segundo andar. Ele lhe havia<br />

<strong>de</strong>dicado toda uma sala. Havia cinco estátuas: dois sátiros, um Hércules com<br />

músculos como cordas nodosas sob uma pele <strong>de</strong> mármore, e um Baco<br />

memorável, cujo corpo, embora <strong>de</strong> pedra, parecia mais carnudo do que o meu.<br />

Porém, o mais belo era o jovem atleta: um rapaz nu, seu peso sobre o pé, seu<br />

torso torcido preparado para o lançamento do disco que ele segurava na mão<br />

direita em concha. Tudo em seu corpo transmitia flui<strong>de</strong>z e graça, como se<br />

Medusa o tivesse capturado no exato segundo antes <strong>de</strong> pensamento e ação se<br />

conectarem. Certamente, até mesmo Savonarola teria se comovido com ele.<br />

Esculpido muito tempo antes <strong>de</strong> Cristo, havia uma divinda<strong>de</strong> palpável em sua<br />

perfeição.<br />

— Gosta <strong>de</strong>le?<br />

— Oh, sim — ofeguei. — Gosto muito. É <strong>de</strong> quando?<br />

— Ele é mo<strong>de</strong>rno.<br />

— Não. Ele é...<br />

— Clássico? Sei, é um erro esperado. Ele é a prova <strong>de</strong> meu lado filisteu.<br />

— O que quer dizer?<br />

— Comprei-o em Roma. De um homem que jurou que tinha sido<br />

<strong>de</strong>senterrado na ilha <strong>de</strong> Creta dois anos antes. O torso conserva as marcas <strong>de</strong><br />

terra e fungos. Vê os <strong>de</strong>dos partidos na mão esquerda? Paguei uma fortuna por<br />

ele. Quando o trouxe para Florença, um amigo com ligação com o jardim <strong>de</strong><br />

esculturas dos Medici disse-me que era obra <strong>de</strong> um jovem artista. A cópia <strong>de</strong><br />

uma peça que havia pertencido a Cosimo. Aparentemente, não era a primeira<br />

vez que tal ilusão tinha acontecido.<br />

Ergui os olhos para o jovem. Podia-se imaginá-lo virando a cabeça para<br />

nós, sorrindo à <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> sua própria frau<strong>de</strong>. No entanto, um sorriso<br />

encantador.<br />

— O que você fez?<br />

— Parabenizei o artista e fiquei com a estátua. Acho que vale o que quer<br />

que eu tenha pago por ela. Venha. Tenho coisas que acho que vão interessá-la<br />

ainda mais.<br />

Levou-me a uma sala menor. De um armário trancado, tirou uma linda<br />

taça <strong>de</strong> malaquita e dois vasos <strong>de</strong> ágata, restaurados por ourives florentinos, em<br />

pe<strong>de</strong>stais dourados com seu nome gravado na parte <strong>de</strong> baixo. Em seguida, abriu<br />

uma pequena gaveta <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira marchetada, <strong>rev</strong>elando um conjunto <strong>de</strong> moedas<br />

romanas e jóias. Mas o seu verda<strong>de</strong>iro troféu ele <strong>de</strong>ixou por último: um gran<strong>de</strong><br />

portfólio que colocou cuidadosamente sobre a mesa à minha frente.<br />

— São ilustrações <strong>de</strong> um texto aguardando serem anexadas a um livro.

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