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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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— O que quer dizer que não está olhando com atenção bastante, minha<br />

mulher.<br />

— Devia estar nas ruas quando seus guerreiros nos pararam com o<br />

pintor... — vi seu rosto turvar-se. — Está tudo bem. Não faziam idéia <strong>de</strong> quem<br />

nós éramos. Erila apavorou-os evocando as bolhas francesas.<br />

— Ah, sim, as bolhas. Então os nossos salvadores, os franceses,<br />

trouxeram com eles mais do que liberda<strong>de</strong> cívica.<br />

— Sim, mas é difícil abalar seu po<strong>de</strong>r.<br />

— Não por si só. Mas e se o verão continuar tão quente quanto o inverno<br />

foi frio? E se não chover e a safra for arruinada? Somos pios <strong>de</strong>mais para<br />

perseguir, hoje, a prosperida<strong>de</strong>, e a cida<strong>de</strong> já não produz tanto quanto produzia.<br />

E apesar <strong>de</strong> todo o seu exército <strong>de</strong> <strong>de</strong>votos, há ainda um louco rondando e<br />

usando os intestinos das pessoas como colares.<br />

— Houve outro corpo!<br />

Ele sacudiu os ombros.<br />

— Não foi divulgado. Os vigias <strong>de</strong> Santa Felicita encontraram restos<br />

humanos espalhados no altar ontem <strong>de</strong> manhã.<br />

— Oh...<br />

— Mas quando voltaram com ajuda, tinham <strong>de</strong>saparecido.<br />

— Acha que seus seguidores se livraram do corpo?<br />

— Que corpo? Realida<strong>de</strong> e percepção, lembra-se? Quando ele era<br />

oposição, essa profanação era uma dádiva do céu. Agora cheira a anarquia. Ou<br />

coisa pior. Pense bem. Se Florença é <strong>de</strong>vota, mas Deus é cruel com ela, então é<br />

só uma questão <strong>de</strong> tempo até seus a<strong>de</strong>ptos começarem a questionar<br />

publicamente se a sua é a pieda<strong>de</strong> do tipo certo.<br />

— Acha isso ou sabe? — perguntei. Pois até mesmo uma oposição que<br />

não existe <strong>de</strong>ve manter contato com vozes <strong>de</strong>ntro assim como <strong>de</strong> fora.<br />

Ele sorriu.<br />

— Veremos. Mas me diga, Alessandra, como se sente? Como me sentia?<br />

Tinha dormido com dois homens nas ultimas horas. Um alimentara meu corpo, o<br />

outro, a minha mente. Se Savonarola era realmente um mensageiro <strong>de</strong> Deus na<br />

terra, então eu já <strong>de</strong>veria estar sentindo as chamas lambendo meus pés. Mas, em<br />

vez disso, sentia-me surpreen<strong>de</strong>ntemente calma.<br />

— Sinto-me... plena — repliquei.<br />

— Bem, soube que o começo do verão é um bom momento para a<br />

concepção, se marido e mulher se encontram em um amor respeitoso, e não<br />

lascivo — fez uma pausa. — De modo que rezemos para o futuro.<br />

O pintor partiu na manha seguinte bem cedo. Erila viu-o antes <strong>de</strong> ele partir.

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