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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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Vinte e Oito<br />

DEPOIS DESSA NOITE, FIQUEI DOENTE por algum tempo. Erila estava tão<br />

preocupada que tirou do quarto minhas lâminas e pincéis, até que o <strong>de</strong>svario me<br />

abandonasse. Eu dormia muito e perdi o apetite por comida, assim como pela<br />

vida. O ferimento inchou e supurou e provocou febre. Erila cuidou <strong>de</strong> mim com<br />

ervas e cataplasmas até a pele tornar a se juntar e a cura ter início. Mas <strong>de</strong>ixou<br />

uma cicatriz que passou do vermelho raivoso a uma linha branca alteada que<br />

tenho ainda hoje. E durante o tempo todo, cuidou <strong>de</strong> mim com a ferocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

um cão do inferno nos portões, <strong>de</strong> modo que quando meu marido veio perguntar<br />

por minha saú<strong>de</strong>, mais tar<strong>de</strong> naquele primeiro dia, ouvi suas vozes altercarem no<br />

lado <strong>de</strong> fora do quarto, mas nem por um momento tive dúvida <strong>de</strong> qual dos dois<br />

venceria.<br />

Depois, quando minha calma reconquistou sua confiança e meu senso <strong>de</strong><br />

humor foi restaurado o bastante para ouvir seus gracejos, perguntei-lhe o que<br />

tinha acontecido entre eles e ela representou a cena, divertindo-me: ele, o<br />

velhaco, assumindo atitu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>pois atormentando e ameaçando, ela a escrava<br />

negra, meta<strong>de</strong> bruxa, contando histórias <strong>de</strong> partir o coração e o súbito aborto<br />

sangrento.<br />

E era uma mentira tão <strong>de</strong>slavada que a achei quase agradável.<br />

— Não disse isso!<br />

— Por que não? Ele quer um filho. Está na hora <strong>de</strong> saber que não vai<br />

consegui-lo fo<strong>de</strong>ndo seu irmão.<br />

— Mas...<br />

— Nada <strong>de</strong> mas. Pelo que você me disse, ele fez um trato. Que o cumpra.<br />

Se gosta do cheiro <strong>de</strong> cu, o problema é <strong>de</strong>le. Tomaso é apenas a sua puta nas<br />

horas vagas. Você é a dona da casa. E é melhor ele tratá-la como tal.<br />

— O que ele disse?<br />

— Oh... que não fazia idéia, que lamentava e... blá, blá, blá. Eles nunca<br />

sabem o que dizer sobre isso. A primeira menção <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> sangue, e até<br />

mesmo os que gostam <strong>de</strong> boceta ficam constrangidos.<br />

— Erila! — ri. — A sua linguagem é pior do que a <strong>de</strong> Tomaso. Ela <strong>de</strong>u <strong>de</strong><br />

ombros.<br />

— Pelo menos, meu comportamento é melhor. Vocês, "madames", não<br />

sabem da missa a meta<strong>de</strong>. Deviam ouvir as coisas que dizem <strong>de</strong> vocês. Ou que<br />

se colocam sob suas aureolas, os olhos erguidos para o céu, ou que mastigam<br />

maçãs na cara <strong>de</strong>les e ostentam o pentelho. Nem mesmo sei se eles sabem qual<br />

preferem. O melhor que po<strong>de</strong> fazer é escolher quando mudar <strong>de</strong> fantasia. — Ela

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