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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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não havia mais nada para botar para fora.<br />

— Parabéns.<br />

— Estou morrendo.<br />

— Não, não está. Está grávida.<br />

— Como é possível? Isto não é um bebê, é uma doença.<br />

Ela riu.<br />

— Devia estar contente. Este nível <strong>de</strong> náusea significa que a gravi<strong>de</strong>z está<br />

bem fixada. Mulheres que não sentem nada quase sempre o per<strong>de</strong>m antes do fim<br />

da terceira lua.<br />

— E nas afortunadas? — perguntei entre vômitos. — Quanto tempo dura?<br />

Ela sacudiu a cabeça, passando um pano úmido na minha.<br />

— Dê graças a Deus por sua constituição — disse ela animadamente. —<br />

Vai lhe ser muito útil.<br />

Fui consumida pelas náuseas. Havia dias em que mal conseguia falar <strong>de</strong><br />

tão concentrada no aumento <strong>de</strong> nível da saliva em minha boca. Mas tinha seu<br />

lado positivo. Não pensava no pintor, em seus <strong>de</strong>dos na pare<strong>de</strong> ou na sensação<br />

<strong>de</strong> seu corpo contra o meu. Não me perguntava sobre meu marido nem me<br />

ressentia <strong>de</strong> meu irmão. E pela primeira vez em minha vida, não ansiei por<br />

minha liberda<strong>de</strong>. A casa já era um mundo gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais para mira.<br />

A minha doença fez maravilhas com a minha posição diante da<br />

criadagem. Antes eu era arrogante e pretensiosa, agora mal podia andar. Pararam<br />

<strong>de</strong> cochichar por minhas costas e começaram a colocar vasilhas em lugares<br />

estratégicos pela casa, <strong>de</strong> modo que eu pu<strong>de</strong>sse vomitar on<strong>de</strong> quer que a ânsia<br />

me dominasse. Até mesmo me procuraram com sugestões. Comi alho, mastiguei<br />

gengibre e bebi chá <strong>de</strong> terra. Erila vasculhou cada botica da cida<strong>de</strong> em busca <strong>de</strong><br />

remédios. Passou tanto tempo na loja Landucci, do lado do Palazzo Strozzi, que<br />

fez amiza<strong>de</strong> com seu proprietário, um homem <strong>de</strong> língua loquaz, comparável à<br />

sua. Ele mandou um cataplasma cheio <strong>de</strong> ervas e pedacinhos ressequidos <strong>de</strong><br />

animais mortos para ser colocado sobre meu estômago. Cheirava pior do que o<br />

meu vômito, se bem que me aliviou por alguns dias. Mas somente alguns dias.<br />

Meu marido, que andava mais ocupado do que nunca com questões que<br />

supostamente não existiam, ficou tão preocupado que trouxe um médico. Ele<br />

<strong>de</strong>u-me uma poção que me fez vomitar mais.<br />

Em meados <strong>de</strong> setembro, eu estava enjoada há tanto tempo que até mesmo<br />

Erila <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se mostrar lépida comigo. Acho que receou que eu morresse. Eu<br />

me sentia tão nauseada que havia momentos em que acolheria a morte quase <strong>de</strong><br />

bom grado. Tornei-me soturna em meu sofrimento.<br />

— Nunca se perguntou sobre esse bebê... — disse-lhe uma noite em que<br />

estava sentada na minha cama abanando o calor terrível que grudara na minha<br />

pele como uma manta ensopada.

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