15.04.2013 Views

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

que você. Como pô<strong>de</strong> pensar uma coisa <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>la? Isso partiria seu coração.<br />

Em vez do <strong>de</strong>la, partira o meu.<br />

— Bem, se ela não sabia, agora sabe. Pelo menos sobre Tomaso. Vi isso<br />

em seu rosto.<br />

Erila sacudiu a cabeça.<br />

— Bem, muitos segredos <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser segredos. Parece que os<br />

Simulados são bons fuxiqueiros também. Pelo que an<strong>de</strong>i sabendo, até o<br />

confessionário <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser seguro. Provavelmente Luca, o novo anjo <strong>de</strong> Deus,<br />

falou alguma coisa.<br />

Era o fim <strong>de</strong> Tomaso como juiz <strong>de</strong> caráter.<br />

— Mas... se ninguém sabia... quer dizer, como você <strong>de</strong>scobriu?<br />

— Vivo aqui, não se esqueça — e fez um gesto para as pare<strong>de</strong>s.<br />

— Eles sabem?<br />

— É claro. Po<strong>de</strong> ter certeza <strong>de</strong> que se ele não pagasse tão bem, eles não<br />

seriam os únicos. Gostam <strong>de</strong>le. Apesar <strong>de</strong> seus pecados — fez uma pausa. — E<br />

você também. Isso é o pior <strong>de</strong> tudo.<br />

Ela ficou comigo até eu dormir, mas a dor tinha penetrado meus sonhos e,<br />

nessa noite, a serpente voltou a atormentar, O olhar malicioso do charlatão era a<br />

boca do Diabo, a serpente nascendo <strong>de</strong>la, colorida e sibilando uma raiva lasciva,<br />

me comprimindo e amaldiçoando até eu <strong>de</strong>spertar gritando, embora eu ache que<br />

a minha voz só ressoasse no meu sono, pois a casa estava mortalmente<br />

silenciosa à minha volta.<br />

O catre <strong>de</strong> Erila, do lado da porta, estava vazio. O escuro gritava em meus<br />

ouvidos. Quase dava para ouvir o farfalhar da serpente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le. A minha<br />

pele estava úmida do suor do medo. Eu estava abandonada em uma casa <strong>de</strong><br />

pecado e o Diabo vinha me pegar. Forcei-me a levantar e acen<strong>de</strong>r a lamparina.<br />

As sombras se retraíram para os cantos do quarto, projetando-se ali como uma<br />

maré montante. Remexi com <strong>de</strong>sespero em minha arca, tirando, lá do fundo,<br />

meus <strong>de</strong>senhos, carvão e penas. A oração nos chega <strong>de</strong> várias formas. Se dormir<br />

trazia o Diabo, e os pecados <strong>de</strong> meu marido roubavam minhas palavras, então<br />

ficaria acordada e tentaria rezar a Deus por meio <strong>de</strong> minha pena, invocando a<br />

imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora para que interce<strong>de</strong>sse por mim.<br />

Minhas mãos estavam tremendo quando peguei o fragmento <strong>de</strong> carvão.<br />

Fazia semanas que não o usava e suas pontas estavam rombudas. Encontrei a<br />

lâmina envolvida em um pedaço <strong>de</strong> pano <strong>de</strong> meu pai, e comecei a afiar a ponta,<br />

o som da raspagem sutilmente familiar. Mas a semi-escuridão e a umida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

meus <strong>de</strong>dos me <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong>sajeitada e a lâmina escorregou, <strong>de</strong> repente, fazendo<br />

um sulco comprido em minha mão, indo até a parte <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> meu braço.<br />

O sangue jorrou instantaneamente, brilhante contra a pele <strong>de</strong>scorada, uma<br />

vibração <strong>de</strong> cor que nenhuma tintura conseguiria captar. Olhei fascinada a linha

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!