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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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— Mamãe?<br />

— Plautilla?<br />

Ela estava olhando para nós dois. A sala agora apresentava dois pares <strong>de</strong><br />

olhos <strong>de</strong> gato. Senti certa vertigem ao examiná-los. Toquei levemente na cabeça<br />

<strong>de</strong>la.<br />

— Por que não termina isto, filha? A luz está linda lá fora. Vá e registre a<br />

mão <strong>de</strong> Deus na natureza.<br />

— Oh, mas estou cansada.<br />

— Então, <strong>de</strong>ite-se ao sol e <strong>de</strong>ixe que seus raios clareiem seu cabelo.<br />

— Mesmo? Posso?<br />

Desconfiada, antes que eu mudasse <strong>de</strong> idéia, arrumou suas coisas<br />

rapidamente e saiu. E no seu andar, vi <strong>de</strong> novo sua tia, <strong>de</strong>strancando o mesmo<br />

cabelo castanho basto, pegando suas coisas e saindo às pressas do quarto,<br />

<strong>de</strong>ixando eu e minha mãe para falarmos sobre o assunto <strong>de</strong>sagradável do<br />

casamento no silêncio que se instalara. Tinha sido havia tanto tempo que a<br />

imagem pareceu recém-cunhada em minha mente.<br />

Ficamos em silêncio por um tempo, meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma vida no espaço entre<br />

nós.<br />

— Ela tem o traço forte — disse ele, por fim. — Você ensinou bem.<br />

— Não precisou ser ensinado. Ela nasceu com um olhar genuíno e uma<br />

mão firme.<br />

— Como sua mãe?<br />

— Mais como seu pai, eu acho, se bem que não estou certa que seus<br />

primeiros professores o reconhecessem em suas roupas sofisticadas.<br />

Ele abriu sua capa e expôs seu forro escarlate.<br />

— Não aprova?<br />

Dei <strong>de</strong> ombros.<br />

— Vi tinturas melhores no armazém <strong>de</strong> meu pai. Mas isso foi há muito<br />

tempo, quando artistas se preocupavam mais com a cor <strong>de</strong> suas tintas do que<br />

com a <strong>de</strong> suas roupas.<br />

Ele sorriu, como se minha língua afiada o agradasse. Fechou a capa.<br />

— Como nos encontrou?<br />

— Não foi fácil. Esc<strong>rev</strong>i a seu pai várias vezes, mas ele nunca respon<strong>de</strong>u.<br />

Três anos atrás, fui à sua casa em Florença, mas não havia ninguém, e os criados<br />

eram estranhos e não me disseram nada. Então, neste inverno, passei uma noite<br />

na companhia <strong>de</strong> um bispo que contou, com bazófia, que havia uma freira em<br />

um <strong>de</strong> seus conventos que estava pintando a própria capela com a ajuda <strong>de</strong> sua<br />

filha natural.<br />

— Entendo. Bem, estou feliz que Roma tenha lhe concedido tais<br />

companhias ébrias, se bem que esperava mais do pintor que conheci do que ser

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