Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev
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da sua família e na glória do estado. Agora, suas filhas estavam dispersas, seus<br />
filhos selvagens nas ruas, a República em crise e o exército francês a um dia <strong>de</strong><br />
marcha. Enquanto estávamos ali, dançando como se não houvesse nada melhor a<br />
fazer.<br />
As festivida<strong>de</strong>s encerraram-se cedo, <strong>de</strong> acordo com o toque <strong>de</strong> recolher.<br />
Minha família <strong>de</strong>spediu-se me abraçando e abraçando meu marido. Minha mãe<br />
beijou-me solenemente na testa, e acho que falaria algo mais, porém não olhei<br />
em seus olhos. Eu estava nervosa e disposta a culpar todo mundo, menos a mim<br />
mesma, pela minha situação.<br />
— Tem <strong>de</strong> ser corajosa — ela tinha me dito apressadamente nessa manhã<br />
ao verificar meu vestido, sem tempo para todas as instruções. — Ele sabe que<br />
você é jovem e terá cuidado. A noite <strong>de</strong> núpcias po<strong>de</strong> machucar um pouco. Mas<br />
acabará logo. É uma gran<strong>de</strong> aventura, Alessandra. Mudará a sua vida, e acredito<br />
que, se você aceitá-la, ela lhe dará uma tranqüilida<strong>de</strong> e uma satisfação que <strong>de</strong><br />
outra maneira o futuro talvez lhe negasse.<br />
Não estou certa <strong>de</strong> que ela acreditasse nisso. Quanto a mim, estava tão<br />
distraída que nem mesmo escutava direito.<br />
— Então, Alessandra Langella, o que faremos agora, você e eu?<br />
Ele inspecionava o que tinha restado. O silêncio <strong>de</strong>pois da música foi<br />
alarmante.<br />
— Não sei.<br />
Sabia que ele estava percebendo meu nervosismo. Serviu-se <strong>de</strong> mais um<br />
drinque. Oh, por favor, não fique bêbado, pensei. Até mesmo eu, ignorante<br />
como era, sabia que, na noite <strong>de</strong> núpcias, o marido não <strong>de</strong>via procurar sua<br />
recente esposa com uma luxúria incontrolável (e não havia sinal <strong>de</strong> nada<br />
parecido com isso; na verda<strong>de</strong>, a única vez que ele me tocara <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a cerimônia<br />
tinha sido durante a dança) nem embriagado. Quanto às outras proibições, bem,<br />
sem dúvida eu as conheceria durante a noite.<br />
— Talvez <strong>de</strong>vêssemos explorar um interesse mútuo por enquanto.<br />
Gostaria <strong>de</strong> ver um pouco <strong>de</strong> arte?<br />
— Oh, sim — disse eu, e acho que meu rosto <strong>de</strong>ve ter-se iluminado,<br />
porque ele riu com a minha inépcia como alguém riria da excitação <strong>de</strong> uma<br />
criança. Lembro-me <strong>de</strong> ter pensado, nesse momento, que ele parecia ser um bom<br />
homem e que, quando nos tornássemos marido e mulher, po<strong>de</strong>ríamos voltar a<br />
conversar como tínhamos feito na casa <strong>de</strong> Plautilla, e passar o tempo livre<br />
sentados um do lado do outro lendo e estudando questões da mente, como um<br />
irmão que nunca tive. E assim, embora o estado pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>smoronar à nossa<br />
volta, conservaríamos algo da antiga Florença <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós, e portanto, <strong>de</strong> todo