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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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instante, ficamos unidos pela confusão e <strong>de</strong>sespero. Então, ele falou mais calmo,<br />

porém com firmeza.<br />

— Escute. Tem <strong>de</strong> ouvir isso. Está prestando atenção?<br />

E <strong>de</strong> repente tudo pareceu tão importante. Balancei a cabeça assentindo,<br />

apesar do tremor.<br />

— Você é uma jovem esplêndida. Tem a mente <strong>de</strong> um florim recémcunhado<br />

e um corpo jovem macio. E se os corpos macios <strong>de</strong> mulheres jovens<br />

fossem o que eu <strong>de</strong>sejo, então, sem dúvida, eu <strong>de</strong>sejaria você. — Fez uma pausa.<br />

— Mas não <strong>de</strong>sejo.<br />

Deu um suspiro.<br />

— O décimo quarto canto. "O <strong>de</strong>serto era uma extensão seca <strong>de</strong> areia<br />

espessa ar<strong>de</strong>ndo... Muitos rebanhos <strong>de</strong> almas nuas vi chorando<br />

<strong>de</strong>sesperadamente, cada grupo sofrendo uma penalida<strong>de</strong> diferente... Algumas<br />

estendiam-se <strong>de</strong> costas, enquanto outras — o maior número — vagava, nunca<br />

parando, dando voltas e voltas.<br />

"E sobre toda essa areia e terra gran<strong>de</strong>s flocos <strong>de</strong> fogo caíam lentamente,<br />

regularmente... e sem uma trégua a dança <strong>de</strong> mãos <strong>de</strong>sventuradas prosseguia,<br />

do lado <strong>de</strong> cá, do lado <strong>de</strong> lá, afugentando as chamas carnais que caíam."<br />

Enquanto ele falava, eu podia ver as ilustrações, os corpos masculinos<br />

torturados, marcados pela queimadura incessante <strong>de</strong> sua carne.<br />

— Prefiro Dante a Savonarola — prosseguiu ele. — Mas o nosso monge<br />

talvez seja o mais explícito dos dois. "E assim, os sodomitas <strong>de</strong>vem ar<strong>de</strong>r no<br />

inferno, que é bom <strong>de</strong>mais para eles pois sua perfídia <strong>de</strong>strói a própria<br />

natureza!"<br />

— Fez uma pausa. — Enten<strong>de</strong> agora?<br />

Engoli em seco e anuí com um movimento da cabeça. Depois <strong>de</strong> dito,<br />

como não compreendê-lo? É claro, eu tinha ouvido falar disso. Quem não tinha?<br />

Histórias grosseiras e piadas grosseiras. Porém, ainda mais que a fornicação<br />

comum, isso tinha sido mantido afastado das crianças como o mais torpe dos<br />

pecados dos homens: execrável para a pureza da família e a honra <strong>de</strong> um estado<br />

<strong>de</strong>voto. Então, meu marido era um sodomita. Um homem que rejeitava as<br />

mulheres preferindo o Diabo na pele <strong>de</strong> outros homens.<br />

Mas se era verda<strong>de</strong>, então aí é que não fazia sentido mesmo. Por que ia<br />

querer fazer o que tinha acabado <strong>de</strong> fazer? Por que se forçaria a algo que lhe<br />

causava tanta aversão, como eu percebera tão claramente em seu rosto?<br />

— Não entendo — eu disse. — Se é assim, então por que...<br />

— Por que me casei com você?<br />

— Sim.<br />

— Oh, Alessandra. Use esse seu cérebro jovem e perspicaz. Os tempos<br />

estão mudando. Você ouviu o veneno que vaza <strong>de</strong> seu púlpito. Estou surpreso

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