15.04.2013 Views

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

um instante, Nossa Senhora na Anunciação, ouvindo notícias <strong>de</strong> uma magnitu<strong>de</strong><br />

tal que invocava tanto o terror quanto a alegria.<br />

— Oh, você acha? Então, vai me ajudar?<br />

— Eu...<br />

— Oh, não percebe? Agora estou casada. E meu marido, que só <strong>de</strong>seja o<br />

meu bem-estar, dará, eu sei, permissão para você me instruir, me mostrar<br />

técnicas. Talvez eu pu<strong>de</strong>sse, até mesmo, assisti-lo na capela. Eu...<br />

— Não, não! — E seu alarme foi tão veemente quanto a minha excitação.<br />

— Não é possível<br />

— Por que não? Sabe tantas coisas, sabe...<br />

— Não. Não enten<strong>de</strong>. — A sua veemência me <strong>de</strong>teve. — Não posso lhe<br />

ensinar nada. — E o seu horror era tanto que parecia que eu acabara <strong>de</strong> lhe<br />

propor um ato <strong>de</strong> uma in<strong>de</strong>cência escabrosa.<br />

— Quer dizer não po<strong>de</strong> ou não quer? — eu disse friamente, olhando<br />

diretamente em seus olhos.<br />

— Não posso — resmungou, <strong>de</strong>pois repetiu em voz mais alta, com uma<br />

pausa maior entre as palavras, como se as proferisse para si mesmo assim como<br />

para mim. — Não posso ajudá-la.<br />

Não consegui respirar direito. Ter tanto tão perto e <strong>de</strong>pois per<strong>de</strong>r tudo...<br />

— Entendo. Bem... — levantei-me, orgulhosa <strong>de</strong>mais para <strong>de</strong>ixar que<br />

percebesse a gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> minha aflição. — Sem dúvida, você tem o que fazer.<br />

Demorou-se por um momento, como se tivesse algo mais a dizer, <strong>de</strong>pois<br />

se virou e se dirigiu à porta. Mas, ali, se <strong>de</strong>teve.<br />

— Eu... tem mais uma coisa.<br />

Esperei.<br />

— Naquela noite... na noite anterior ao seu casamento, quando nós...<br />

quando a senhora estava no pátio...<br />

Mas embora soubesse o que ele ia dizer, estava com muita raiva para<br />

ajudá-lo.<br />

— Sim, e daí?<br />

— Deixei cair algo... um pedaço <strong>de</strong> papel. Um esboço. Agra<strong>de</strong>ceria se<br />

pu<strong>de</strong>sse tê-lo <strong>de</strong> volta.<br />

— Um esboço? — E minha voz foi ficando distante. Assim como ele<br />

<strong>de</strong>struíra minhas esperanças, faria o mesmo com ele. — Receio que não me<br />

lembre. Talvez se me dissesse o que era exatamente.<br />

— Era... nada. Isto é, nada importante.<br />

— Mas importante o bastante para querê-lo <strong>de</strong> volta?<br />

— Só porque... foi feito por um amigo. E eu... tenho <strong>de</strong> <strong>de</strong>volvê-lo.<br />

Era uma mentira tão óbvia — a primeira e, talvez, a única, que eu o ouvira<br />

dizer —, que não se at<strong>rev</strong>eu a me olhar enquanto falava. O pedaço <strong>de</strong> papel

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!