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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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Ele sorriu com a lógica.<br />

— Seu nome é Piero Francesco <strong>de</strong> Medici, que já foi patrono <strong>de</strong> Botticelli.<br />

É claro. O primo <strong>de</strong> Lorenzo, o Magnífico, e um dos primeiros a fugir<br />

para o acampamento francês.<br />

— Consi<strong>de</strong>ro-o um traidor — eu disse com firmeza.<br />

— Pois então é mais tola do que pensei. — E sua voz foi ríspida. — Devia<br />

refletir mais quando falar, mesmo aqui. Escute bem: não vai <strong>de</strong>morar para que<br />

todos aqueles que apóiam os Medici temam por suas vidas. Além disso, você só<br />

conhece meta<strong>de</strong> da história. Há razão suficiente para a sua <strong>de</strong>slealda<strong>de</strong>. Quando<br />

seu pai foi assassinado, as proprieda<strong>de</strong>s do filho foram <strong>de</strong>ixadas aos cuidados <strong>de</strong><br />

Lorenzo, que extorquiu dinheiro <strong>de</strong>las, quando a fortuna do banco dos Medici<br />

<strong>de</strong>clinou. O ressentimento <strong>de</strong> Piero Francesco não é <strong>de</strong> admirar. Mas ele não é<br />

um homem mau. Na verda<strong>de</strong>, como patrono da arte, a história po<strong>de</strong> colocá-lo do<br />

lado do próprio Lorenzo.<br />

— Não vi nada que ele tivesse dado à cida<strong>de</strong>.<br />

— Isso porque ele guarda para si mesmo. Mas a sua vila em Cafaggiolo<br />

tem pinturas <strong>de</strong> Botticelli que o próprio artista <strong>de</strong>ve se arrepen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ter cedido.<br />

Há um painel em que Marte jaz vencido por <strong>Vênus</strong>, prostrado com tal langui<strong>de</strong>z,<br />

que não se po<strong>de</strong> dizer se foi a sua alma ou o seu corpo que ela acaba <strong>de</strong><br />

conquistar. E, então, tem a própria <strong>Vênus</strong>, ascen<strong>de</strong>ndo das ondas, nua em uma<br />

concha. Já ouviu falar nela?<br />

— Não. — Minha mãe tinha me falado, uma vez, sobre um conjunto <strong>de</strong><br />

pinturas da lenda <strong>de</strong> Nastagio que ele realizara para um casamento, e como<br />

todos que as viam ficavam maravilhados com os <strong>de</strong>talhes e vida que<br />

transmitiam. Mas, assim como minha irmã, eu resistia às histórias <strong>de</strong> mulheres<br />

<strong>de</strong>spedaçadas por melhor que fosse o artista. — Como ela é, a sua <strong>Vênus</strong>?<br />

— Bem, não sou nenhum especialista em mulheres, mas penso que você a<br />

acharia o abismo entre a visão <strong>de</strong> arte platônica e a savonarolana.<br />

— Ela é bela?<br />

— Bela, sim. Porém é mais do que isso. Ela é a união do clássico e do<br />

cristão. Sua nu<strong>de</strong>z é mo<strong>de</strong>sta, embora a sua serieda<strong>de</strong> seja jocosa. Ela convida e<br />

resiste ao mesmo tempo. Até mesmo o seu conhecimento do amor parece<br />

inocente. Se bem que imagino que a maioria dos homens que a olham pensam<br />

mais em levá-la para a cama do que para a igreja.<br />

— Oh! Daria qualquer coisa para vê-la.<br />

— Deve torcer para que ninguém a veja por algum tempo. Se notícias a<br />

sua existência se tornassem comuns, o nosso pio Fra<strong>de</strong> quase que certamente iria<br />

querer <strong>de</strong>struí-la junto com seus pecadores. Vamos esperar que o próprio<br />

Botticelli não se sinta obrigado a cedê-la ao inimigo. Pelo sei, ele já está<br />

propenso ao Partido dos Simulados.

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