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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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filha caçula do cozinheiro caiu primeiro. Era uma coisinha magricela, não mais<br />

<strong>de</strong> sete ou oito anos, e apesar <strong>de</strong> fazermos tudo o que podíamos, ela morreu em<br />

três dias. Filippo foi o próximo. Seu caso foi mais difícil, e senti muito por ele,<br />

pois não podia ouvir nosso conforto nem falar <strong>de</strong> seu sofrimento. Agonizou por<br />

<strong>de</strong>z dias, enfraquecendo paulatinamente. Acabou morrendo à noite, quando<br />

ninguém estava do seu lado. Pela manhã, quando Erila me <strong>de</strong>u a notícia, caí em<br />

prantos.<br />

Nesse dia, eu e meu marido tivemos a nossa primeira discussão. Ele<br />

queria me mandar para fora da cida<strong>de</strong>, para a estação <strong>de</strong> águas no sul ou para as<br />

colinas a leste, on<strong>de</strong> disse que o ar estaria mais puro. Eu estava tomando a dose<br />

diária <strong>de</strong> aloé, mirra e açafrão <strong>de</strong> Erila, para me proteger do contágio, e tinha me<br />

fortalecido <strong>de</strong>pois que os vômitos haviam cessado, mas ainda não me recuperara<br />

<strong>de</strong> todo, e, apesar <strong>de</strong> toda a minha curiosida<strong>de</strong>, acho que acabaria convencida se<br />

os eventos não nos surpreen<strong>de</strong>ssem.<br />

Ainda conversávamos, trancados em seu quarto, quando o criado chegou<br />

da casa <strong>de</strong> meus pais.<br />

O bilhete estava com a letra <strong>de</strong> minha mãe:<br />

A pequena Illuminata faleceu da febre. Eu iria para a casa <strong>de</strong> Plautilla, mas<br />

seu pai está doente e temo o contágio se eu for <strong>de</strong> uma casa para a outra. Se você está<br />

bem e se sente em condições <strong>de</strong> viajar, sua irmã precisa <strong>de</strong> você. Não há mais ninguém<br />

a quem eu possa pedir isso. Tenha cuidado com você mesma e com o precioso bebê que<br />

carrega.<br />

Plautilla mal tinha visto Illuminata <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a mandara para o campo<br />

com a ama-<strong>de</strong>-leite, quase um ano antes. Não seria a primeira nem a última vez<br />

que uma criança não conseguia chegar ao <strong>de</strong>smame e minha irmã, que, até on<strong>de</strong><br />

eu sabia, tinha passado a sua vida inteira mais preocupada com questões<br />

superficiais do que profundas, já tinha outro filho a caminho.<br />

Portanto sinto-me envergonhada ao admitir que não estava preparada para<br />

o que encontrei.<br />

O som <strong>de</strong> sua dor nos alcançou assim que saltamos da carroça. Sua criada<br />

<strong>de</strong>sceu a escada correndo para nos receber, e tanto Erila quanto eu percebemos o<br />

pânico em seu rosto. Quando chegamos ao último patamar, a porta do quarto se<br />

abriu e Maurizio surgiu, extremamente abatido. Atrás <strong>de</strong>le, o arfar <strong>de</strong> seus<br />

gemidos ressoava como um vento anunciando tempesta<strong>de</strong>.<br />

— Graças a Deus vocês vieram — disse ele. — Está assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

recebeu a notícia hoje <strong>de</strong> manhã. Eu não posso fazer mais nada, ela não aceita<br />

conforto. Receio que fique doente e perca a criança.<br />

Erila e eu entramos, silenciosamente, no quarto.

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