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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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— Então, o que mais quer saber? — perguntou ele com certo<br />

aborrecimento.<br />

— Eles... quer dizer... ?<br />

— Tivemos sorte. Os carcereiros estavam mais interessados nas notícias<br />

do dia do que no trabalho do dia. Nós o encontramos antes que o pior tivesse<br />

sido feito.<br />

Eu quis perguntar mais, mas não soube como.<br />

— Não se preocupe, Alessandra. O seu precioso pintor ainda será capaz<br />

<strong>de</strong> segurar um pincel.<br />

— Obrigada — disse eu.<br />

— Talvez <strong>de</strong>vesse esperar antes <strong>de</strong> me agra<strong>de</strong>cer. Não ouviu toda a<br />

história. Apesar <strong>de</strong> libertado, as acusações subsistem. Como estrangeiro, há uma<br />

pena <strong>de</strong> banimento. Com efeito imediato. Falei com sua mãe e esc<strong>rev</strong>i uma carta<br />

<strong>de</strong> apresentação a pessoas <strong>de</strong> minhas relações em Roma. Lá, estará seguro. Se o<br />

seu talento continua no lugar, acho que ele po<strong>de</strong>rá usá-lo. Já foi <strong>de</strong>spachado.<br />

Já <strong>de</strong>spachado. O que eu tinha pensado? Que não havia preço a ser pago<br />

por sua liberda<strong>de</strong>? Já <strong>de</strong>spachado. O mundo pareceu estremecer por alguns<br />

segundos, e percebi como a vida podia empurrar-nos pelas brechas do <strong>de</strong>stino<br />

para o <strong>de</strong>sespero, mas eu não podia <strong>de</strong>ixar isso acontecer agora. Meu marido me<br />

olhava fixamente e havia, achei, uma tristeza nele que eu não percebera antes.<br />

Engoli em seco.<br />

— O que mais po<strong>de</strong> fazer por Tomaso?<br />

Ele sacudiu os ombros.<br />

— Po<strong>de</strong>mos continuar procurando. Se ele estiver em Florença, nós o<br />

encontraremos.<br />

— Oh, tenho certeza <strong>de</strong> que sim.<br />

Ele parecia tão cansado. Havia uma jarra <strong>de</strong> vinho sobre a mesa. Levei-lhe<br />

uma taça, esforçando-me para meu estômago <strong>de</strong>ixar que o servisse. Bebeu um<br />

longo trago, <strong>de</strong>pois recostou a cabeça na ca<strong>de</strong>ira. Pareceu-me que sua pele<br />

tornara-se mais amarelada e flácida com as preocupações noturnas, <strong>de</strong> modo<br />

que, agora, seu rosto era o <strong>de</strong> um homem velho. Pus minha mão sobre a <strong>de</strong>le.<br />

Olhou para ela, mas não respon<strong>de</strong>u.<br />

— E a cida<strong>de</strong>? — perguntei. — A provação ainda vai acontecer?<br />

Ele sacudiu a cabeça.<br />

— Ah, torna-se cada vez mais uma farsa. O franciscano agora diz que só<br />

atravessará as chamas com Savonarola. Então outro monge ocupará o seu lugar<br />

também.<br />

— Nesse caso, não há mais por quê.<br />

— Não, a não ser provar que o fogo queima. Po<strong>de</strong>riam muito bem<br />

escolher caminhar sobre o Arno e julgar qual dos dois molharia os pés.

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