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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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— Quanto ao Juízo Final — continuou —, bem, correrei os riscos. Nessas<br />

mesmas areias escaldantes estão blasfemadores e usurários, e os piores<br />

tormentos estão reservados para eles, Acho que mesmo que nunca tivesse<br />

<strong>de</strong>sejado sentir o gosto <strong>de</strong> rapazes jovens, ainda assim o céu não seria para mim.<br />

Pelo menos, terei o conforto <strong>de</strong> partilhar as chamas com companheiros<br />

pecadores. E estarei em companhia religiosa. Acredite, se esse exército <strong>de</strong><br />

sodomitas não estivesse constantemente em fuga, aposto que veria uma hoste <strong>de</strong><br />

cabeças tonsuradas entre seus membros.<br />

— Não!<br />

Sorriu.<br />

— Para alguém sofisticado, Alessandra, você é encantadoramente<br />

ingênua.<br />

Se bem que não por muito mais tempo, pensei. Olhei para ele. Agora não<br />

<strong>de</strong>monstrava repugnância, seu humor e boa vonta<strong>de</strong> tinham voltado e não<br />

consegui <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>, <strong>de</strong> novo, gostar <strong>de</strong>le um pouquinho.<br />

— Pelo menos não po<strong>de</strong>rá alegar que a relutância <strong>de</strong> sua mulher o levou a<br />

isso — eu disse calmamente. Ele pareceu aturdido. — O sodomita <strong>de</strong> que Dante<br />

fala no canto <strong>de</strong>zesseis. Ele não diz algo parecido? Não me lembro <strong>de</strong> seu nome.<br />

— É claro. Luca Rusticci. Um homem <strong>de</strong> nenhum mérito público, fosse<br />

ele qual fosse. Rumores sugeriam que foi comerciante e não um erudito. —<br />

Sorriu. —Tomaso tinha dito que me encontraria uma esposa que conhecia a<br />

Divina comédia tão bem quanto eu — baixei os olhos. — Desculpe. Seu nome a<br />

faz sofrer.<br />

— Sob<strong>rev</strong>iverei — repliquei calmamente. Mas senti lágrimas quentes<br />

espetarem por trás <strong>de</strong> meus olhos.<br />

— Espero que sim. Odiaria ser a causa da morte <strong>de</strong> um intelecto tão doce.<br />

— Sem falar em sua perfeita cortina <strong>de</strong> fumaça.<br />

Ele riu.<br />

— Bem-vinda <strong>de</strong> volta. Gosto mais <strong>de</strong> sua sagacida<strong>de</strong> do que da<br />

comiseração <strong>de</strong> si mesma. Você é uma jovem notável, sabia? — olhei para o<br />

meu marido e me perguntei como teria sido se seus elogios tivessem aquecido<br />

meu corpo tanto quanto minha mente. — Talvez esteja na hora <strong>de</strong> falarmos<br />

sobre o futuro. Como lhe disse, agora a casa é sua. A sua biblioteca, a sua arte.<br />

Com exceção <strong>de</strong> meu gabinete, po<strong>de</strong> fazer o que quiser com ela. Isso faz parte<br />

da barganha.<br />

— E você?<br />

— Não vou incomodá-la com freqüência. Em público, <strong>de</strong>veremos ser<br />

vistos em alguns eventos <strong>de</strong> estado, se, <strong>de</strong> fato, ainda houver um estado com<br />

in<strong>de</strong>pendência suficiente para organizá-los. Exceto isso, estarei fora gran<strong>de</strong> parte<br />

do tempo. Isso é tudo o que precisa saber.

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