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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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somente na beleza — e por um segundo, me <strong>de</strong>sarmei. — Se é um consolo,<br />

tampouco eu o tenho visto. Tem andado ocupado com outras questões.<br />

— Sim, estou certo que sim. — Era quase possível tocar na ferida aberta<br />

em sua arrogância. Pensei, por um momento, que ele ia chorar. — Bem — disse<br />

rapidamente —, você e eu conversaremos mais outra hora. Já a ocupei por<br />

tempo <strong>de</strong>mais. — Apontou para o afresco quase terminado. — Por favor...<br />

voltem ao... que quer que estavam fazendo antes <strong>de</strong> eu interrompê-los.<br />

Nós o observamos sair mancando. Quando as bolhas estouram, quanto <strong>de</strong><br />

sua amargura <strong>de</strong>ve escoar junto com seu liquido, pensei. Sem dúvida,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria do quanto as cicatrizes o <strong>de</strong>sfigurariam. Quanto ao que faria com as<br />

suas suspeitas, bem, preocupar-me com isso só me enfraqueceria para a luta, se<br />

houvesse.<br />

Virei-me para o pintor. Como po<strong>de</strong>ria enten<strong>de</strong>r o que acabara <strong>de</strong><br />

presenciar? Eu não tinha palavras, muito menos estômago para lhe contar.<br />

— Preciso terminar sua saia... — falei asperamente.<br />

— Não. Eu tenho <strong>de</strong>...<br />

— Por favor... Por favor, não me pergunte nada. Você está bem, a capela<br />

terminada, e eu espero um bebê. Temos <strong>de</strong> estar gratos.<br />

E, <strong>de</strong>ssa vez, fui eu que <strong>de</strong>sviei o olhar. Peguei o pincel e voltei para a<br />

pare<strong>de</strong>.<br />

— Alessandra!<br />

Sua voz <strong>de</strong>teve minha mão. Acho que foi a primeira vez que usou meu<br />

nome <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que nos conhecemos. Virei-me.<br />

— Não po<strong>de</strong> ficar assim. Você sabe disso.<br />

— Não! O que sei é que meu irmão é perigoso <strong>de</strong>mais e nós dois, agora,<br />

estamos à sua mercê. Não percebe? Temos <strong>de</strong> ser estranhos um para o outro.<br />

Você é o pintor. Eu sou a filha casada. É a única maneira <strong>de</strong> nos salvarmos.<br />

Virei-me para a pare<strong>de</strong>, só que o pincel estava tremendo <strong>de</strong>mais para que<br />

pu<strong>de</strong>sse usá-lo. Apertei o punho à sua volta e obriguei minha mão a se firmar,<br />

ficar tão firme quanto meu coração. O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>le estava à minha volta. Tudo o<br />

que eu tinha a fazer era me virar e <strong>de</strong>ixar que me abraçasse. Coloquei o pincel na<br />

pare<strong>de</strong> e dirigi todo o meu <strong>de</strong>sejo à tinta.<br />

Depois <strong>de</strong> um tempo, juntou-se à mim, e quando minha mãe voltou à<br />

capela para me buscar, nos encontrou pintando um do lado do outro.<br />

E apesar <strong>de</strong> ela não ter dito nada, nessa noite mandou Erila para o<br />

alojamento dos criados e dormiu comigo em meu antigo quarto, on<strong>de</strong> ficou tão<br />

evi<strong>de</strong>ntemente inquieta que nem mesmo eu, que no passado tivera tanta coragem<br />

para sair a caminhar na noite, me at<strong>rev</strong>eria a arriscar seu olho semi-aberto.

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