15.04.2013 Views

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— Vou ficar com você. Faz idéia <strong>de</strong> quanto tempo?<br />

— Não. Um dos homens que foram levados no verão... Eu o vi antes <strong>de</strong><br />

seu exílio. Ele me contou como foi com ele. Disse que alguns dão nomes logo<br />

<strong>de</strong> início, para evitar o sofrimento. Mas confissões sem tortura não são<br />

consi<strong>de</strong>radas confiáveis.<br />

— Então, confessam duas vezes — disse eu. — Antes e <strong>de</strong>pois. Eu me<br />

pergunto se dão sempre os mesmos nomes.<br />

Ele <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

— Veremos.<br />

Fiquei acordada um pouco mais, porém, como Pedro ao velar a agonia <strong>de</strong><br />

Cristo no jardim, na última noite, meus olhos foram ficando cada vez mais<br />

pesados. O dia tinha sido tão longo e, às vezes, a criança parece ter mais po<strong>de</strong>r<br />

sobre quando acordo e durmo do que eu.<br />

— Venha.<br />

Ergui os olhos e ele estava à minha frente. Dei-lhe a mão. Levou-me para<br />

o meu quarto e me ajudou a ir para a cama.<br />

— Devo chamar Erila?<br />

— Não, não, <strong>de</strong>ixe-a dormir. Só vou me <strong>de</strong>itar um pouco.<br />

E assim fiz.<br />

A próxima coisa <strong>de</strong> que me lembro é a sensação <strong>de</strong> ele vir para a cama,<br />

<strong>de</strong>itar-se do meu lado, aproximando seu corpo com cuidado, até ficarmos um do<br />

lado do outro, como um casal <strong>de</strong> pedra em uma capela, captados em uma morte<br />

esculpida. Parecia não querer me <strong>de</strong>spertar, portanto não <strong>de</strong>ixei que percebesse<br />

que tinha me acordado. Depois <strong>de</strong> um tempo, esten<strong>de</strong>u o braço por cima <strong>de</strong><br />

minha barriga, até sua mão em concha sentir a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da criança. Pensei em<br />

Plautilla e na criança que ela per<strong>de</strong>ra, e no Frei e no estômago ensangüentado da<br />

mulher, e, finalmente, pensei em Nossa Senhora, tão calma e abençoada em<br />

relação a tudo isso. E nisso, senti o bebê se mover.<br />

— Ah — disse ele com calma. — Está se preparando para a sua chegada.<br />

— Hummm — disse eu sonolenta. — Foi um chute bem forte.<br />

— Imagino como ele será. Com os professores certos, certamente terá<br />

uma mente <strong>de</strong> florim recém-cunhado.<br />

— E um olho capaz <strong>de</strong> distinguir uma estátua grega recente <strong>de</strong> uma<br />

antiga. — Senti o calor <strong>de</strong> sua mão em minha barriga intumescida. — Mas,<br />

espero que ache mais fácil amar Deus e a arte sem confusão ou medo. Gostaria<br />

que Florença tivesse os dois no futuro.<br />

— Sim. Eu também gostaria.<br />

Ficamos em silêncio. Estendi minha mão e a coloquei, <strong>de</strong>licadamente, em<br />

cima da sua.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!