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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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<strong>de</strong>ve estar se sentindo. Como é difícil ver como Deus po<strong>de</strong> permitir algo assim,<br />

levar o homem que você ama, sem qualquer motivo. Lamente por você, lamente<br />

por seu Cristoforo, mas <strong>de</strong>ixe-o repousar. Ele foi para um lugar melhor.<br />

Eu ali, em pé, e minha boca abriu-se chocada, pasma, a brandura <strong>de</strong> minha<br />

condição atual <strong>rev</strong>elou-se para me ajudar e comecei a chorar; lágrimas copiosas<br />

que uma vez <strong>de</strong>rramadas, não se podia mais controlar. E toda essa comoção<br />

<strong>de</strong>spertou o bebê que começou a berrar também. Assim, ficamos ali, como uma<br />

visão do sofrimento feminino liberto, e o homem pegou a caneta e marcou uma<br />

gran<strong>de</strong> cruz do lado do nome <strong>de</strong> meu marido.<br />

De volta à sala <strong>de</strong>sconfortável e <strong>de</strong>sconsolada, Erila, cujas lágrimas<br />

tinham-se secado imediatamente ao sairmos do edifício, trouxe-nos vinho e<br />

insistiu para que eu tomasse uma poção <strong>de</strong> sua bolsa antes <strong>de</strong> me abraçar e nos<br />

<strong>de</strong>ixar, fechando a porta atrás <strong>de</strong> si. O bebê estava em meus braços, seus<br />

olhinhos piscando para mim enquanto eu encarava minha mãe.<br />

— Então — disse eu, entorpecida. — On<strong>de</strong> ele está?<br />

— Foi embora.<br />

— Foi embora para on<strong>de</strong>?<br />

— O campo. Com Tomaso. Na manhã <strong>de</strong> seu parto, foi me buscar e me<br />

disse o que havia se passado entre vocês. Uma vez <strong>de</strong>cidido, provi<strong>de</strong>nciou que<br />

um corpo fosse encontrado com um bilhete escrito com sua letra, <strong>de</strong> modo que<br />

levasse as autorida<strong>de</strong>s a nós para i<strong>de</strong>ntificá-lo. Lamento a aflição que lhe<br />

causou. Não lhe contei porque temi que, no seu estado enternecido, não fosse<br />

capaz <strong>de</strong> fingir. — Ela soava tão prosaica, como um estadista cuja missão é<br />

assumir questões graves e esclarecê-las para o resto da população amedrontada.<br />

Mas eu não tinha a sua serenida<strong>de</strong>.<br />

— Eu... eu não entendo. Por quê? Era tão importante assim que o bebê<br />

não fosse seu? Porque...<br />

— Porque talvez fosse? Não se preocupe, Alessandra. Sei <strong>de</strong> tudo. Não<br />

estou aqui para julgá-la. Há outro tribunal para isso, e, nesse tribunal, acho que<br />

po<strong>de</strong>remos nos encontrar lado a lado, um dia. — Deu um suspiro. — Não teve a<br />

ver com o bebê. Ele achou... bem, não <strong>de</strong>vo falar por ele. Pediu que <strong>de</strong>pois que<br />

isso fosse <strong>rev</strong>elado lhe entregasse esta carta. Se bem que acho que seria mais<br />

sensato, se a <strong>de</strong>struísse <strong>de</strong>pois.<br />

E tirou <strong>de</strong> seu corpete a carta. Peguei-a com as mãos tremendo. O bebê<br />

choramingou em meus braços. Acalmei-o e abri o selo.<br />

Sua letra era tão elegante. Um contraste com o rabisco violento no livro<br />

<strong>de</strong> registros do Santo Spirito. Senti prazer só em olhá-la. Prazer e<br />

reconhecimento.

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