15.04.2013 Views

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

imaginação funcionava <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> maneiras diferentes. Evi<strong>de</strong>ntemente,<br />

umas eram mais superficiais do que outras. Havia aquelas que transformavam<br />

suas celas em pretensos salões <strong>de</strong> beleza, usando seu tempo livre para se excitar<br />

com sua toalete ou refazendo seus hábitos para mostrar um pouco do penteado<br />

ou permitir um vislumbre do tornozelo. Seus maiores prazeres eram escutar o<br />

som das próprias vozes no coro da capela e cultivar a arte do entretenimento, e<br />

embora os muros fossem altos e os portões ficassem trancados, em certas noites<br />

era possível ouvir suas risadas misturadas com vozes mais graves masculinas<br />

ecoando pelos claustros.<br />

Mas nem todos os nossos pecados eram carnais. Havia a mulher <strong>de</strong><br />

Verona, apaixonada por palavras, que passava os dias esc<strong>rev</strong>endo peças,<br />

histórias cheias <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> e martírio, com um toque <strong>de</strong> amor não<br />

correspondido e romance. Nós as encenávamos no convento, as melhores<br />

costureiras confeccionando as roupas e as mais exibicionistas representando os<br />

papéis (masculinos e femininos). Havia também a freira vinda <strong>de</strong> Pádua, cujo<br />

amor pela erudição tinha sido ainda maior do que o meu e que passara anos<br />

<strong>de</strong>safiando seus pais, recusando-se a se casar. Quando, por fim, perceberam que<br />

a sua <strong>de</strong>voção não podia ser suprimida, levaram seus estudos até nós. Ao<br />

contrário <strong>de</strong> seus pais, tivemos gran<strong>de</strong> cuidado com ela. A sua cela tornou-se a<br />

nossa biblioteca e a sua mente um dos nossos maiores tesouros. Durante meus<br />

primeiros anos, passei muitas noites <strong>de</strong>batendo com ela Deus e Platão e a<br />

jornada da humanida<strong>de</strong> até a divinda<strong>de</strong>, e houve vezes em que me fez refletir<br />

mais profundamente do que meus tutores.<br />

Ela era a nossa erudita e, quando Plautilla cresceu, ela foi — junto comigo<br />

— a sua professora.<br />

Plautilla...<br />

No primeiro mês, minha filha não teve nome. Mas quando chegou, <strong>de</strong><br />

Florença, a notícia <strong>de</strong> que minha irmã tinha morrido ao dar à luz um filho<br />

robusto, primeiro chorei e, <strong>de</strong>pois, batizei minha filha. Dessa maneira, podia<br />

conservar recordações da minha família.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente, ela era a queridinha do convento. Todos a amavam.<br />

Durante os primeiros anos, perambulava como uma criança selvagem, mimada.<br />

Mas assim que teve ida<strong>de</strong>, começamos a sua educação, um processo a<strong>de</strong>quado a<br />

uma princesa da Renascença. Quando tinha doze anos, sabia ler e esc<strong>rev</strong>er em<br />

três línguas, bordar, tocar música, atuar e, é claro, rezar. Inevitavelmente, ela<br />

cresceu com uma certa gravida<strong>de</strong> adulta por causa da privação <strong>de</strong> outras<br />

crianças, mas lhe caía bem, e assim que a facilida<strong>de</strong> entre seu olho e sua mão<br />

começou a se <strong>rev</strong>elar, tirei a cópia <strong>de</strong> Cennini <strong>de</strong> minha arca, afiei um toco <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!