15.04.2013 Views

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

um painel <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, mais ou menos do tamanho <strong>de</strong> uma Bíblia gran<strong>de</strong>, estava<br />

um retrato <strong>de</strong> Nossa Senhora. A cena era vibrante com uma paleta do sol<br />

florentino e o <strong>de</strong>talhe no segundo plano mostrava elementos da cida<strong>de</strong>: o gran<strong>de</strong><br />

domo, as perspectivas complexas <strong>de</strong> suas loggias e praças e uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

igrejas. No centro, estava a Virgem, suas mãos (mãos tão bem pintadas)<br />

dobradas <strong>de</strong>licadamente em seu colo e seu halo dourado brilhando para o<br />

mundo, <strong>de</strong>finindo-a como a mãe <strong>de</strong> Deus.<br />

Isso era claro. Menos claro era o momento <strong>de</strong> sua vida que ele escolhera<br />

para captá-la. Sua juventu<strong>de</strong> era primordial, e a maneira como olhava<br />

audaciosamente para além do olhar do observador <strong>de</strong>ixava claro que estava<br />

olhando para alguém. No entanto, não havia nenhum sinal <strong>de</strong> um anjo ansioso<br />

trazendo-lhe boas-novas e nenhuma dança ou bebê dormindo trazendo-lhe<br />

alegria. Seu rosto era comprido e cheio, cheio <strong>de</strong>mais para ser bonito, e sua pele<br />

nada tinha da pali<strong>de</strong>z consi<strong>de</strong>rada elegante, mas apesar <strong>de</strong> sua aparência, havia<br />

algo nela, uma gravida<strong>de</strong>, uma certa intensida<strong>de</strong>, que nos fazia olhá-la duas<br />

vezes.<br />

Ao examiná-lo <strong>de</strong> novo, <strong>rev</strong>elou-se mais uma coisa. Maria era menos uma<br />

suplicante do que uma contestadora: havia questionamento em seus olhos, como<br />

se ainda não compreen<strong>de</strong>sse satisfatoriamente ou aceitasse tudo o que estava<br />

sendo exigido <strong>de</strong>la. E que sem compreen<strong>de</strong>r, era possível que optasse por não<br />

obe<strong>de</strong>cer.<br />

Em resumo, havia uma espécie <strong>de</strong> rebelião nela, o que nunca eu vira em<br />

uma Madona antes. Mas apesar <strong>de</strong> sua transgressão, eu a conhecia bem. Porque<br />

seu rosto era o meu.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!