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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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que achavam a sua cor estranha: viravam-se e a olhavam embasbacados,<br />

divididos entre fascínio e repulsa, quando voltávamos juntas da igreja. Mas ela<br />

não se alterava, sustentando o olhar <strong>de</strong>les até que <strong>de</strong>sviassem os seus primeiro.<br />

Para mim, a sua cor era gloriosa. Houve vezes em que eu não conseguia evitar<br />

que meu pincel traçasse uma linha <strong>de</strong> alvaia<strong>de</strong> em seu braço, só para admirar o<br />

contraste entre a luz e o escuro.<br />

— E o nosso pintor? Mamãe disse que os afrescos da capela serão sobre a<br />

vida <strong>de</strong> Santa Catarina da Alexandria. Haverá bastante espaço para você lá. Ele<br />

nunca pediu que posasse?<br />

— Minha figura feita pelo Garoto Magrela? — olhou para mim<br />

atentamente. — O que você acha?<br />

— Eu... eu não sei. Acho que ele tem bom olho para beleza.<br />

— Um monge jovem também tem medo disso. Para ele, sou somente uma<br />

cor que quer capturar.<br />

— Então, acha que ele é inacessível às mulheres?<br />

Ela bufou.<br />

— Se for, será o primeiro que conheço, Ele é rígido <strong>de</strong> pureza.<br />

— Nesse caso, me pergunto por que você toma tantas precauções para me<br />

manter longe <strong>de</strong>le.<br />

Ela me encarou por um momento.<br />

— Porque nas mãos certas, a inocência po<strong>de</strong> <strong>rev</strong>elar mais armadilhas do<br />

que a experiência.<br />

— Bem, isso mostra o quanto você sabe — eu disse, triunfante por ter,<br />

pela primeira vez, uma história a contar que ela <strong>de</strong>sconhecia. — Pelo que soube,<br />

ele passa as noites com mulheres cujas almas são mais escuras do que a sua pele.<br />

— Quem lhe disse isso?<br />

— Meus irmãos.<br />

— Bah! Eles não distinguem o próprio traseiro do cotovelo. Tomaso ama<br />

a si mesmo exageradamente, e quando se trata <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> mulher, Luca não<br />

é capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir um corvo em uma tigela <strong>de</strong> leite.<br />

— Você fala assim, mas me lembro <strong>de</strong> quando ele a olhava bastante<br />

interessado.<br />

— Luca! — e riu. — Só tem estômago para pecar quando já entornou<br />

meio barril <strong>de</strong> ale. Quando está sóbrio, sou uma criação do Diabo.<br />

— E é. Pare <strong>de</strong> se mexer! Como posso captar a sombra certa se você a<br />

muda?<br />

Depois, quando ela já tinha ido embora, senti um latejar em minha barriga<br />

que ia e vinha em um ritmo irregular, embora não <strong>de</strong>sse para saber até que ponto<br />

seria por causa do excesso <strong>de</strong> pudim <strong>de</strong> leite. O calor do verão era capaz <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>rreter o cérebro. Pensei em Plautilla. Estaria sentindo a dor <strong>de</strong>la? Ela <strong>de</strong>via

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