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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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cozido, faisão assado, truta e massas frescas, acompanhados <strong>de</strong> pudim <strong>de</strong><br />

açafrão e creme <strong>de</strong> ovos com cobertura <strong>de</strong> calda <strong>de</strong> açúcar queimado. Todos<br />

estão com sua melhor disposição. Até mesmo Luca segura o garfo direito,<br />

embora seja possível perceber seus <strong>de</strong>dos cocando para pegar o pão e passá-lo<br />

no molho.<br />

Eu já me sinto fora <strong>de</strong> mim <strong>de</strong> tanto entusiasmo só em pensar em nosso<br />

novo hóspe<strong>de</strong>. Pintores flamengos são muito admirados em Florença por sua<br />

precisão e espiritualida<strong>de</strong> sutil.<br />

— Então, ele vai pintar nós todos, pai. Vamos ter <strong>de</strong> posar para ele, não<br />

vamos?<br />

— De fato. Ele também veio para isso. Tenho certeza <strong>de</strong> que ele nos<br />

apresentará uma bela recordação do casamento <strong>de</strong> sua irmã.<br />

— Nessa caso, ele me pintará primeiro! — Plautilla está tão feliz que<br />

cospe pudim <strong>de</strong> leite na toalha da mesa. — Depois Tomaso que é o mais velho,<br />

<strong>de</strong>pois Luca e, então, Alessandra. Nossa!, Alessandra, você vai estar ainda mais<br />

alta quando chegar a sua vez.<br />

Luca ergue os olhos do prato e sorri largo com a boca cheia, como se essa<br />

fosse a piada mais espirituosa que ele tivesse ouvido. Mas acabo <strong>de</strong> chegar da<br />

igreja e estou repleta da boa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus para com toda a minha família.<br />

— Ainda assim, é melhor ele não <strong>de</strong>morar <strong>de</strong>mais. Soube que uma das<br />

noras da família Tornabuoni tinha morrido <strong>de</strong> parto quando Ghirlandaio <strong>rev</strong>eloua<br />

no afresco.<br />

— Esse risco você não corre. Tem <strong>de</strong> conseguir um marido antes. — Do<br />

meu lado, o insulto <strong>de</strong> Tomaso é sussurrado e só eu posso ouvi-lo.<br />

— O que disse,Tomaso? — A voz <strong>de</strong> minha mãe é tranqüila, mas incisiva.<br />

Ele assume a sua expressão mais angelical.<br />

— Eu disse que estou morrendo <strong>de</strong> se<strong>de</strong>. Passe a jarra <strong>de</strong> vinho, irmã<br />

querida.<br />

— É claro, irmão. — Pego a jarra e quando a movo em sua direção, ela<br />

escorrega <strong>de</strong> minhas mãos e o líquido <strong>de</strong>rramado respinga em sua túnica nova.<br />

— Ah, mãe — explo<strong>de</strong> ele. — Ela fez <strong>de</strong> propósito.<br />

— Não fiz!<br />

— Ela...<br />

— Filhos... filhos... seu pai está cansado e estão, todos os dois, fazendo<br />

muito barulho.<br />

A palavra "filhos" surte efeito em Tomaso e ele se cala, carrancudo. No<br />

intervalo que se seguiu, o som da boca aberta <strong>de</strong> Luca mastigando tornou-se<br />

enorme. Minha mãe mexeu-se, impaciente, em sua ca<strong>de</strong>ira. Nossas maneiras<br />

sobrecarregavam-na profundamente. Assim como na jaula, o domador <strong>de</strong> leão<br />

usa um chicote para controlar o seu comportamento, minha mãe tinha

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