15.04.2013 Views

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Po<strong>de</strong> imaginar a glória que trarão quando o livro estiver concluído?<br />

Tirei-as com cuidado, uma por uma, até umas doze <strong>de</strong>las se disporem em<br />

seqüência sobre a mesa. O pergaminho era fino o bastante para eu ver a escrita<br />

atrás, mas não precisei ler as palavras para saber <strong>de</strong> que livro se tratava. Os<br />

esboços a nanquim mostravam vislumbres do paraíso: uma Beatriz<br />

sublimemente <strong>de</strong>licada guiando Dante pela mão por um bando <strong>de</strong> espíritos<br />

minúsculos, em direção ao Ente Supremo acima.<br />

— Paradiso.<br />

— Exato.<br />

— E há também o Purgatoro e o Inferno?<br />

— É claro.<br />

E <strong>rev</strong>i canto por canto. À medida que os <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong>sciam para o inferno,<br />

tornavam-se mais complexos e selvagens; alguns <strong>de</strong>les proliferavam figuras<br />

nuas atormentadas por <strong>de</strong>mônios, outros capturavam homens paralisados em<br />

estruturas <strong>de</strong> árvores ou violados por serpentes. Embora conhecesse Dante, a<br />

minha imaginação nunca teria produzido tal rio ondulante <strong>de</strong> imagens para<br />

acompanhar as palavras.<br />

— Oh! Quem fez isto?<br />

— Não reconhece o estilo?<br />

— Não vi tanta arte quanto você — repliquei calmamente.<br />

— Tente este — procurou na pilha e retirou um canto do Paradiso, no<br />

qual os cachos do cabelo <strong>de</strong> Beatriz ondulavam ao redor <strong>de</strong> sua face com a<br />

mesma exuberância das dobras <strong>de</strong> sua roupa sobre seu corpo. Em seu rosto,<br />

meta<strong>de</strong> recatado, meta<strong>de</strong> sereno, percebi o indício <strong>de</strong> uma amante mais<br />

calculista, que atraía para si todos os tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos dos homens.<br />

— Alessandro Botticelli?<br />

— Muito bem. Ela é <strong>de</strong> fato a sua Beatriz, não acha?<br />

— Mas... mas quando ele <strong>de</strong>senhou estas imagens? Eu não sabia que tinha<br />

ilustrado a Divina Comédia.<br />

— Oh, o nosso Sandro tem um amor por Dante quase tão gran<strong>de</strong> quanto o<br />

que tem por Deus. Se bem que soube que está mudando sob as invectivas das<br />

palavras <strong>de</strong> Savonarola. Foram feitas alguns anos atrás, <strong>de</strong>pois que ele retornou<br />

<strong>de</strong> Roma. De início, foram um trabalho <strong>de</strong> amor, não uma encomenda, apesar <strong>de</strong><br />

ele sempre ter tido um patrono. Elas lhe tomaram muito tempo. E como vê,<br />

permanecem inacabadas.<br />

— Como chegaram a você?<br />

— Ah, infelizmente sou apenas seu guardião. Guardo-as para um amigo<br />

que anda ocupado com política e teme que sua coleção possa se tornar<br />

vulnerável à violência <strong>de</strong> fora.<br />

E claro que eu estava curiosa para saber a que amigo se referia, mas ele

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!