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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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— Aaii. — De tal forma me tirou o ar que tive <strong>de</strong> me segurar na porta<br />

para não cair. O espasmo durou talvez <strong>de</strong>z ou quinze segundos, <strong>de</strong>pois aliviou.<br />

Agora não. Oh, Deus, agora não. Não estou pronta.<br />

Quando busquei ar para respirar, ela estava olhando fixo para a minha<br />

barriga.<br />

— O bebê é gran<strong>de</strong>, senhora.<br />

— Sim, sim, é. Tancia, preste atenção — falei bem claro e <strong>de</strong>vagar. —<br />

Preciso que faça uma coisa para mim. Preciso que leve um bilhete ao outro lado<br />

da cida<strong>de</strong>, à casa da minha mãe, perto da Piazza Sant'Ambrogio. Está<br />

enten<strong>de</strong>ndo?<br />

Ela olhou para mim, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>u uma risadinha.<br />

— Não posso, senhora. Não sei on<strong>de</strong> é e o patrão disse que os outros<br />

podiam ir ver a guerra, mas que eu tinha <strong>de</strong> ficar aqui.<br />

Fechei meus olhos e respirei fundo. Por favor, Deus, se tenho <strong>de</strong> entrar em<br />

trabalho <strong>de</strong> parto, pelo menos me dê Erila. Não me <strong>de</strong>ixe só na casa com uma<br />

menina retardada. Não podia estar acontecendo. Não podia. Era cedo <strong>de</strong>mais. Eu<br />

estava apenas exausta e amedrontada. Voltaria para a cama e dormiria <strong>de</strong> novo.<br />

Quando acordasse, a casa estaria viva <strong>de</strong> novo, e eu estaria bem.<br />

Subi a escada com cuidado. Ao chegar ao primeiro andar, ouvi um<br />

barulho, uma ca<strong>de</strong>ira se arrastando ou uma persiana se fechando? O ruído vinha<br />

da galeria <strong>de</strong> Cristoforo. Percorri o corredor com cuidado, minhas mãos em<br />

concha sobre minha barriga, e empurrei a porta.<br />

Dentro, um sol prematuro <strong>de</strong> primavera enviava um raio <strong>de</strong> luz dourada<br />

pelos azulejos e sobre as estátuas. O corpo do Lançador <strong>de</strong> disco refulgia em seu<br />

calor.<br />

— Bom dia, minha mulher.<br />

Foi a minha vez <strong>de</strong> levar um susto. Virei-me e o vi sentado no outro<br />

extremo da sala, um livro no colo, a estátua <strong>de</strong> Baco, em um langor embriagado<br />

meio caindo <strong>de</strong> seu pe<strong>de</strong>stal, atrás <strong>de</strong>le.<br />

— Cristoforo. Você me assustou! O que está acontecendo? On<strong>de</strong> estão<br />

todos?<br />

— Foram testemunhar a história. Como antes você ansiava tanto fazer. O<br />

populacho interrompeu o serviço na Catedral, esta manhã. Os dominicanos<br />

fugiram <strong>de</strong> volta a San Marco e estão agora sitiados em seu mosteiro.<br />

— Meu Deus. E Savonarola?<br />

— Está lá <strong>de</strong>ntro. Há uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> prisão da Signoria para ele. E só uma<br />

questão <strong>de</strong> tempo.<br />

Então, realmente estava terminando. Senti a opressão <strong>de</strong> novo em meu<br />

útero. O bebê, ao que parecia, tinha aptidão para política. Certamente, afinal,<br />

seria filho do meu marido.

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