INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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e órgãos de segurança de uma maneira geral. O primeiro deles advém de uma crença<br />
equivocada de que as estatísticas georreferenciadas representam fielmente ou<br />
fotograficamente a realidade, como se houvesse alguma coisa semelhante a um número real<br />
de crimes. Essa perspectiva confunde a descrição dos fatos com os próprios fatos,<br />
considerando a linguagem e os conceitos como mero instrumento descritivo da realidade, ao<br />
invés de uma realidade em si mesma, e ignora o caráter construtivista das informações sobre a<br />
realidade empírica 14 .<br />
O segundo problema advém da crença oposta, ou seja, corresponde a uma posição<br />
sociologizante que, ao considerar a construção social dos fenômenos, desconsidera,<br />
niilísticamente, a sistematização dos dados e as informações estatísticas como um instrumento<br />
de conhecimento da realidade.<br />
Um terceiro problema está relacionado com questões internas das organizações do<br />
sistema de justiça, cujos operadores tendem a negligenciar a produção de informações, por<br />
não considerá-las de real utilidade para suas atividades. Para Beato Filho (2001), trata-se de<br />
um problema delicado, pois envolve a persuasão de policiais e outros agentes da justiça,<br />
encarregados da produção da estatística, em relação à sua conveniência.<br />
O autor refere-se, ainda, aos fatores de ordem tecnológica, como a ausência de uma<br />
estrutura, seja de equipamentos ou de conhecimentos necessários à sua implantação e<br />
utilização, e a existência de uma cultura pragmática, avessa à reflexão, que pode explicar<br />
muito da irracionalidade e da ineficácia dos órgãos da polícia, cultura essa que não se ressente<br />
da ausência de dados e informações sistemáticas e confiáveis. Para muitos essa situação,<br />
embora seja perniciosa para a sociedade como um todo, é, até mesmo, conveniente, pois os<br />
problemas de ineficiência podem permanecer obscurecidos.<br />
Ao considerar que a polícia depende de informações para realizar seu trabalho e que a<br />
população é a sua principal fonte de informações, Manning (2003), por sua vez, destaca o<br />
papel da cultura e do trabalho policial no processamento dessas informações.<br />
As formas como a polícia obtém, processa, codifica, decodifica e usa a<br />
informação são críticas para a compreensão de seu mandato e função. A<br />
polícia junta diversos tipos de informações e as usa para diferentes fins,<br />
orientando-se por suposições, baseadas no senso comum, a respeito de seu<br />
trabalho, de sua atuação principal, e nas expectativas de seu público. A<br />
polícia junta informações primárias, ou dados ‘crus’, que então são<br />
processadas, no policiamento, para resolver crimes ou encerrar eventos,<br />
transformado-se em informações secundárias. Quando processadas duas<br />
vezes, juntadas e formatadas, elas podem avançar na organização e tornar-se<br />
14 Ignora, por exemplo, o processo político de construção das categorias penais.