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INFORMAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA: A ... - Crisp - UFMG

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Por outro lado, aos olhos do policial, um indivíduo, até prova em contrário, não é, de<br />

pronto, definido e considerado como cidadão ordeiro. O policial está sempre buscando o que<br />

está oculto sob o cidadão comum. Desta forma, uma possível aproximação entre policiais e<br />

cidadãos só ocorre após uma observação atenta e após a identificação de elementos que<br />

permitam definir o sujeito como cidadão ordeiro.<br />

Em Bretas (1997) encontram-se exemplos de situações que revelam a existência de<br />

tratamento fortemente diferenciado, desde o período colonial, dispensado pelos policiais<br />

brasileiros à pessoas de diferentes classes sociais, caracterizando uma forte desigualdade na<br />

distribuição de segurança e na garantia de direitos. O curso da ação policial, tanto quanto a<br />

legalidade ou não das decisões tomadas, depende de quem são os atores envolvidos numa ação<br />

delituosa, implicando assim o estabelecimento de relações distintas para grupos sociais em<br />

posições assimétricas na hierarquia social.<br />

É dessa forma que, como mostra Paixão (1981), policiais passam da condição de<br />

executores para a de produtores da lei, usando a legalidade para os bons cidadãos e a ordem<br />

imposta para os criminosos conhecidos. Essa situação configura aquilo que se costuma chamar<br />

de “polícia de gente” e “polícia de moleque” e que pode ser considerada como expressão do<br />

modo como o poder do policial torna-se rarefeito à medida que se aproxima das classes média<br />

e alta.<br />

Do século XIX ao inicio do século XX, o trabalho do policial no Brasil não esteve<br />

sujeito a qualquer treinamento formal, desenvolvendo-se, apenas, com base no acúmulo de<br />

experiências práticas do dia-a-dia. Estava, no entanto, sujeito à obediência a regras rígidas do<br />

comando centralizado. O saber policial constituía-se a partir das experiências e da troca de<br />

experiências de rotina entre policiais.<br />

No período colonial, a divisão clara e bem-definida das classes sociais superiores e<br />

subalternas facilitava-lhes o trabalho. À medida que a sociedade se torna mais complexa,<br />

porém, as funções vão ficando mais difíceis, exigindo-lhes o desenvolvimento de habilidades<br />

no trato com diferentes grupos sociais e a inclusão de novas categorias de classificação, como<br />

gênero, nacionalidade e trabalho, além da cor e da classe social. Nesse sentido, os recursos<br />

disponíveis para exercer a atividade policial, disciplinar desordeiros e impor a ordem na<br />

cidade, comumente restritos ao uso da violência, também ampliaram-se, passando a incorporar<br />

meios extra-legais de negociação.

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