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INFORMAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA: A ... - Crisp - UFMG

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comenta que, nem sempre, os etnógrafos têm plena consciência do fato de que “embora a<br />

cultura exista no posto comercial, no forte da colina ou no pastoreio de carneiros, a<br />

antropologia existe nos livros, no artigo, na conferência, na exposição do museu ou, como<br />

acontece hoje, nos filmes” (p.26). Trata-se, portanto, de construir um texto denso.<br />

Geertz (2003) pergunta qual a melhor maneira de conduzir uma análise<br />

antropológica e de estudar seus resultados e, na busca da resposta, observa que o<br />

importante é descobrir o que os informantes acham que estão fazendo. Em geral, os<br />

etnógrafos acreditam que ninguém sabe isso tão bem quanto os próprios nativos ou<br />

informantes, e vem daí o desejo de mergulhar na corrente de suas experiências e a ilusão<br />

posterior de que, de alguma forma, isso foi feito. Entretanto, de certa forma, esse simples<br />

truísmo é falso, pois as pessoas usam conceitos de “experiência próxima” muito<br />

espontaneamente e de modo tão natural que não reconhecem, a não ser de forma passageira<br />

e ocasional, que o que disseram envolve conceitos.<br />

Isso é exatamente o que a “experiência próxima” significa: as idéias e as realidades<br />

que elas representam estão natural e indissoluvelmente unidas, e o etnógrafo não é capaz<br />

de perceber aquilo que seus informantes percebem. Na verdade, o que o etnógrafo percebe,<br />

e mesmo assim com bastante insegurança, é o “com quê”, ou “por meio de quê”, ou<br />

“através de quê” os outros percebem.<br />

Geertz (2003) refere-se a uma trajetória, essencial para as “interpretações<br />

etnográficas”, que Dilthey chamou de “círculo hermenêutico”. Trata-se de um trabalho<br />

intelectual, nesse ponto muito semelhante à proposta de Minayo (2002), de um bordejar<br />

dialético contínuo entre todo e partes, no qual um explica o outro, que ajuda compreender<br />

o significado das coisas para os informantes. Trata-se de relatar a subjetividade alheia, num<br />

tipo de compreensão que depende da habilidade para analisar os modos de expressão dos<br />

informantes e seus sistemas simbólicos, num processo que se parece com a tentativa de<br />

compreender o sentido de um provérbio, captar uma alusão, entender uma piada ou<br />

interpretar um poema.<br />

Entende-se por que, como diz Geertz (1997), o conceito semiótico de cultura<br />

adapta-se muito bem ao objetivo de alargamento do discurso humano, pois é o que o<br />

etnógrafo faz: escrever, anotar e fixar o discurso social numa forma inspecionável, e,“ao<br />

fazê-lo, ele o transforma de acontecimento passado, que existe apenas em seu próprio<br />

momento de ocorrência, em um relato, que existe em sua inscrição e que pode ser<br />

consultado novamente” (p.29). Entretanto, é o enunciado, não o acontecimento de falar,

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