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INFORMAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA: A ... - Crisp - UFMG

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Daí o “vazio informacional”, um vazio que também social e político, pois<br />

considerando que o crime e o desvio são produtos de conflitos sociais, e que a informação<br />

é uma construção social, uma vez que não ocorre fora de um contexto histórico e cultural,<br />

pode-se verificar uma correspondência entre o “vazio informacional”, “vazio social” e um<br />

certo “vazio político”, caracterizado por um enrijecimento ou fechamento de natureza<br />

política e ideológica.<br />

Em geral o problema é tomado como uma questão já por demais conhecida e que<br />

pode ser resolvido apenas com aporte de recursos, mas sem uma mudança mais profunda<br />

na maneira de atuar dos policiais e na atitude da própria sociedade. De certa forma, muitos<br />

policiais esperam o apoio da comunidade para a obtenção de mais investimentos em<br />

armas, viaturas e equipamentos, sem que isso, no entanto, implique modificar as formas e<br />

os alvos e focos da atuação policial.<br />

Mesmo nessa situação, há conselheiros sentem falta de dados e informações para<br />

apoiar as reivindicações desses policiais junto às autoridades governamentais e para<br />

orientar as ações do Consep nesse sentido. O depoimento de alguns em entrevistas<br />

individuais, mostra que, tanto a PM quanto a Polícia Civil, quando se queixam da falta de<br />

recursos, fazem-no sem muita fundamentação, ou seja, não sabem fornecer informações<br />

precisas acerca de suas reais necessidades e carências.<br />

Ao priorizar, quase que exclusivamente, as fontes policiais de informação,<br />

prescindindo de outras fontes do poder público e da comunidade, ficam faltando ao<br />

Consep outras perspectivas que possam dar-lhe condições para superar os conhecimentos e<br />

práticas tradicionais e a “redundância informacional” durante as reuniões, nas quais são<br />

repetidos dogmas e princípios do discurso hegemônico sobre a criminalidade que, como se<br />

viu, clama apenas por mais repressão, mais punição – mais do mesmo – sem buscar<br />

alternativas.<br />

Nesse discurso, o crime é entendido como um fenômeno individual, próprio de<br />

alguns indivíduos naturalmente maus e que precisam ser excluídos do convívio social. Não<br />

há, nos Consep, como de resto em toda sociedade de uma maneira geral, a percepção de<br />

que um ato não é definido como criminoso a priori, mas a posteriori, num julgamento<br />

público de natureza social. Um esquecimento é evidência disso: não há no Consep<br />

qualquer preocupação ou menção à possibilidade de recuperação ou ressocialização de<br />

desviantes como forma de evitar a reincidência e a ocorrência de novos crimes praticados<br />

pelos mesmos atores.

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