INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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décadas, quando os movimentos sociais eram legitimados como<br />
interlocutores do Estado, quando se tentava reformar a polícia acostumada ao<br />
arbítrio do regime militar, e quando o próprio Estado se atribuía o papel de<br />
gerador de novos direitos para os “outros”. As falas sobre a violência e a<br />
insegurança sugerem uma preocupação com o rompimento de um equilíbrio,<br />
com a mudança de lugares sociais e, portanto, de privilégios. Não é difícil<br />
entrever por trás do discurso contra os direitos humanos e sobre a<br />
insegurança gerada pelo crime o delineamento de um diagnóstico de que tudo<br />
está mudando para pior, de que as pessoas já não se comportam como o<br />
esperado, que os pobres querem direitos (privilégios, é bom lembrar) e,<br />
supremo abuso, prova total de desordem, quer-se dar até direitos para<br />
bandidos. Pode-se perguntar, contudo, se uma das coisas que se pretendia<br />
obter com a exploração desse “absurdo” não seria a afirmação dos privilégios<br />
daqueles que articulavam o discurso (CALDEIRA, 1991, p. 172).<br />
A população de São Paulo e, provavelmente, toda a população brasileira, fixou uma<br />
imagem de que os defensores dos direitos humanos eram defensores de bandidos. Algumas<br />
das estratégias utilizadas para isso foram: negar humanidade aos criminosos, identificar a<br />
política de humanização de presídios a privilégios aos bandidos em detrimento do cidadão<br />
comum e associar às práticas democráticas a desordem social e o aumento da criminalidade.<br />
Na verdade a fala que espetaculariza e exagera o crime, que potencializa a violência,<br />
faz parte de um discurso ultraconservador que busca a manutenção de privilégios e de uma<br />
ordem excludente e se opõe à expansão dos direitos sociais e à construção de direitos civis. Na<br />
verdade, essa situação permite entender por que a sensação de segurança não é uma função da<br />
ausência de crimes, mas do “distanciamento social” 12 e, além disso, por que a população pobre<br />
e sem recursos também teme a criminalidade. Na realidade, ela teme a privatização da<br />
segurança e a identificação dos direitos individuais e humanos com privilégios, fechando os<br />
olhos à violência e às arbitrariedades.<br />
Para Paixão (1991b) “a expansão da indústria de segurança é problema adicional a ser<br />
enfrentado pelas organizações humanitárias no Brasil” (p. 137). Dois são os riscos apontados:<br />
ampliação da discriminação social (no melhor interesse de seus clientes) e a transformação da<br />
polícia em exército privado. Assim, “a ação realista dos defensores dos direitos humanos deve<br />
considerar, paradoxalmente, propostas de ampliação do controle estatal sobre o mercado de<br />
segurança privada” (p. 137). Além disso, um neovigilantismo tem oferecido aos policiais<br />
12 Que pode ser considerado como uma forte barreira informacional, pois impede a troca de informações.