INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
191<br />
É necessário ter muito tato com os diretores de escola, pois são eleitos pela<br />
comunidade e têm medo de desagradar. Eles tiveram medo do questionário,<br />
porque tiveram medo dos fatos virem a público. Houve um caso de uma<br />
menina que chegou com a professora e a mãe no carro e havia sido<br />
espancada. Elas não queriam polícia, conselho tutelar ou juizado de menores.<br />
A PM é do portão para fora. Eles não querem tornar isso público. Eles já<br />
foram chamados para as reuniões (Pciv 01).<br />
Há uma grande dificuldade entre alguns membros do Consep e as escolas da região<br />
prejudicando a comunicação e a troca de informações, interferindo na construção de sentidos<br />
e do “terceiro conhecimento”, justamente aquilo que poderia sustentar algumas ações<br />
conjuntas e concretas de caráter preventivo contra a violência, já que a escola é uma<br />
instituição importante nesse processo.<br />
Há alguns indicativos de que possa tratar-se de conflitos de natureza político-partidária,<br />
ligados, sobretudo, à prefeitura, como poder-se-á observar mais à frente.<br />
Deve-se notar, também, a presença da idéia de que a eleição democrática dos diretores das<br />
escolas pelos pais e pela comunidade conduziria os primeiros a uma atitude meramente<br />
politiqueira. Novamente aparece na reunião a referência pejorativa à política e, agora mais<br />
precisamente, ao processo eleitoral. Talvez esse discurso deva ser interpretado como<br />
expressão de uma crença, evidentemente ilusória, na possibilidade de uma ação humana ser<br />
politicamente neutra e/ou objetiva.<br />
Mais do que isso, talvez possa ser interpretada no contexto de um processo, atualmente em<br />
marcha no País, que pretende desqualificar a política, tentando enfraquecer as instituições<br />
democráticas, porque não são perfeitas e, assim, prescindir da participação do saber popular<br />
em detrimento da tecnocracia e da hierarquia. Uma das conseqüências mais imediatas desse<br />
discurso é reforçar a descrença nas autoridades políticas democraticamente constituídas, o<br />
grave sentimento de impotência quanto à possibilidade de desenvolver ações para a<br />
transformação da realidade, ou seja, a desmobilização política da comunidade.