INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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e, nessas circunstâncias, a lei pode tornar-se um obstáculo à implementação e preservação da<br />
ordem. De acordo com Lemgruber, Musumeci e Cano (2003), existe uma difícil tensão<br />
estrutural entre a conciliação da democracia e a ação de polícia (p.24).<br />
Aqui se pode evidenciar a importância, ainda que indireta, da informação, enquanto<br />
uma referência, no trabalho cotidiano do policial, seja ela um conjunto de dados estatísticos<br />
sobre a natureza da criminalidade, seja ela conhecimento acerca daquilo que é temido e<br />
avaliado como problema pela comunidade nos locais onde está o patrulheiro.<br />
1.4 A polícia no Brasil: um regime de exceção paralelo<br />
Como sublinha Pinheiro (1991), os órgãos de segurança pública atravessaram todos os<br />
momentos da história política brasileira “funcionando num regime de exceção paralelo”, com<br />
“grande margem de autonomia, independentemente de qual fosse o arcabouço jurídico formal<br />
em vigor”. Para Lemgruber, Musumeci e Cano (2003):<br />
Nenhuma das transições políticas ocorridas na nossa história - mesmo<br />
implicando mudanças relevantes em outros setores - teria afetado<br />
substancialmente a continuidade desse “poder paralelo”, cuja função básica<br />
seria manter, não a ordem pública, no moderno sentido do termo, mas a<br />
ordem hierárquica, calcada em profundas desigualdades econômicas e de<br />
poder, que caracteriza, desde os primórdios, a formação social brasileira.<br />
Assim, se explicariam a permanência das polícias em “regime de exceção”,<br />
mesmo sob condições democráticas, e sua extraordinária resistência às<br />
tentativas de controle e de reforma constitucional (p.53).<br />
Isso pode explicar, em boa medida, a história das distorções, dos excessos, dos abusos<br />
e da corrupção nas instituições policiais brasileiras, numa situação que é percebida pelos<br />
estudiosos como a raiz de graves problemas na atualidade.<br />
Na realidade, ao longo da história, o que se pode perceber é que o Estado brasileiro,<br />
mesmo em seus governos mais democráticos, jamais abriu mão do “privilégio” e do<br />
“conforto” de ter a polícia a seu lado 6 para enfrentar, sempre que necessário, pela via da força,<br />
verbo discriminar: diferenciar, distinguir, discernir; separar, especificar, (classificar); estabelecer diferenças.<br />
6 De acordo com Cerqueira (2001), nos EUA e no Canadá, por exemplo, a maior parte das polícias é gerida e<br />
responde às prefeituras municipais, ou seja, a questão da criminalidade e da segurança é entendida como uma<br />
questão muito mais urbana do que nacional. Existem, evidentemente, polícias federais e estaduais, mas para