INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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Não se pode, entretanto, explicar a sociedade pelas categorias nativas, pois, na<br />
verdade, estas, sim, é que devem ser explicadas pela análise antropológica. Isso significa<br />
admitir ou suspeitar da existência de processos sociais que não podem ser identificados<br />
apenas pelas informações prestadas pelos interlocutores, ou seja, é necessário contar com a<br />
ajuda das teorias. Essa questão é abordada por Durhan (1986) quando diz:<br />
Sair desse impasse significa dissolver essa visão colada à realidade<br />
imediata e à experiência vivida das populações com as quais trabalhamos,<br />
não nos contentando com a descrição da forma pela qual os fenômenos se<br />
apresentam, mas investigando o modo pelo qual são produzidos (p. 33).<br />
Para Geertz (1978), praticar etnografia, mais do que “estabelecer relações,<br />
selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter<br />
um diário e assim por diante”, é essencialmente fazer um determinado “tipo de esforço<br />
intelectual” que se caracteriza pela tentativa de produzir uma “descrição densa”. De certa<br />
forma, isso quer dizer que o etnógrafo não se limita a descrever comportamentos, o que<br />
seria apenas uma “descrição superficial”, mas procura ir além e captar gestos, ou seja, os<br />
comportamentos com seu significado social ou, ainda, a ação social.<br />
Nesse ponto há uma estreita proximidade metodológica entre a hermenêutica e a<br />
etnografia, pois, segundo Geertz (1978), o que o etnógrafo chama de seus dados é, na<br />
realidade, a sua própria construção das construções de outras pessoas. Ele explica as<br />
explicações dadas pelos seus informantes e é por isso que o trabalho etnográfico deve ser<br />
concebido como um trabalho interpretativo, e não apenas como observação. Nessa<br />
perspectiva, o trabalho do etnógrafo também é comparado ao de um “crítico literário” mais<br />
do que ao de um “decifrador de códigos”.<br />
Fazer etnografia é como tentar ler (no sentido de ‘construir uma leitura<br />
de’) um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências,<br />
emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não com os sinais<br />
convencionais do som, mas com exemplos transitórios de<br />
comportamento modelado (GEERTZ, 1978, p.20).<br />
Assim, considera-se que os nativos ou informantes fazem uma interpretação em<br />
primeira mão e que os etnógrafos fazem uma interpretação em segunda e, às vezes, em<br />
terceira mão. Nesse sentido, o texto etnográfico é uma descrição orientada pelo ator dos<br />
envolvimentos, mas pode ser considerado ficção, pois é modelado, visando esclarecer o<br />
que acontece em determinados lugares, com vistas a reduzir perplexidades. Geertz (1978)