INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
229<br />
descontextualizada e despolitizada das questões, que só faz desmobilizar, ainda mais, uma<br />
sociedade isolada, amedrontada e perplexa diante da violência.<br />
Ao inibir os indivíduos e a comunicação, a lei do silêncio, pelo medo, contribui<br />
para diminuir e esvaziar o processo informacional, dificultando ainda mais o trabalho da<br />
polícia e a construção de sentidos coletivos que possam animar a busca de alternativas para<br />
lidar com a violência e a criminalidade. Fica diminuída a possibilidade de trocar<br />
experiências e, portanto, de produção de conhecimentos que possam ajudar na solução<br />
racional e inteligente dos problemas. Assim, os expedientes violentos, discriminatórios,<br />
excludentes e, sobretudo, injustos, serão lembrados, entre os quais pode-se citar a pena de<br />
morte, a diminuição da idade penal e a lei de crimes hediondos, que pouco podem<br />
contribuir para a solução dos problemas.<br />
Algumas comunidades, abandonadas pelo Estado, que podem ser consideradas<br />
como “isolados da informação” são, portanto, alvo de grupos minoritários armados que<br />
não querem cumprir a lei. Sem escolas, hospitais ou postos de saúde, transporte, delegacias<br />
e sem polícia, tornam-se ainda mais sujeitas às conseqüências da desestruturação social.<br />
Em ambientes como estes, programas de controle de homicídios como o “Fica Vivo”,<br />
desenvolvidos pela SEDS, em conjunto com setores da <strong>UFMG</strong>, do comércio, da justiça e<br />
das Policias Militar e Civil, têm atuado para suprir essas carências e conseguido resultados<br />
bastante animadores, fazendo baixar consideravelmente as taxas de homicídio em Belo<br />
Horizonte (BEATO FILHO: 2003).<br />
É nesse contexto de luta por cidadania que o Consep pode fazer sentido, e não como<br />
um braço civil auxiliar do policiamento tradicional. Quando se propõem a re-discutir a<br />
questão da violência e da criminalidade com essa instituição ambígua que é a polícia, é<br />
necessário assumir a perspectiva da comunidade como um todo, pois desta forma os<br />
Consep podem percorrer mais facilmente o “vazio informacional”, uma etapa na<br />
construção do “terceiro conhecimento” e supera-lo ou transforma-lo em novos<br />
conhecimentos.<br />
Porém, os Consep tendem a reproduzir e a expressar as enormes dificuldades que a<br />
sociedade encontra para entender a criminalidade numa perspectiva sociohistórica, como<br />
uma construção social. Com a iniciativa de criar os Consep, a polícia, que poderia<br />
associar-se à população inspirada numa lógica da solidariedade e da reciprocidade que está<br />
profundamente enraizada na cultura popular, vem lutando, desinformadamente, contra uma<br />
violência distante, vista de longe como diz Montes (2000).