INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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Pode-se concluir, com Souza (1999), que a interação assimétrica entre policiais e os<br />
diversos atores sociais, e a conseqüente distribuição desigual de segurança, associa-se ao<br />
distanciamento entre polícia e sociedade, encarado como um dos entraves para a efetivação da<br />
segurança pública em sociedades democráticas. Alguns policiais, reconhecendo o medo que as<br />
pessoas sentem da polícia, atribuem-no à cultura militarista da organização. Além da questão<br />
da respeitabilidade, o militarismo dificultaria a relação entre policiais e cidadãos, pois nessa<br />
posição o policial sente-se superior ao civil. Ao valor social da respeitabilidade atribuído à<br />
profissão soma-se a crença na superioridade do policial em relação aos civis, cultuada na<br />
organização policial e reforçada socialmente pelo medo generalizado da polícia.<br />
Mesmo em bairros mais ricos, diz um capitão entrevistado por Souza (1999), o policial<br />
é tratado de forma indiferenciada, como se fosse uma pessoa estranha. Vê-se que a<br />
desconfiança e o medo em relação aos policiais são difusos, ultrapassando as fronteiras entre<br />
as classes sociais, embora sejam distintos, de acordo com gênero, idade e cor. Também a<br />
confiança em relação à eficiência da polícia é questionada pelo público em geral.<br />
1.6 A necessidade de controle externo<br />
Lemgruber, Musumeci e Cano (2003), discorrendo sobre aquilo que consideram as<br />
principais mazelas e descaminhos das polícias (civil e militar) no Brasil, referem-se à baixa<br />
capacidade de investigação e resolução de crimes; à baixa qualidade e não utilização de<br />
informações; à divisão de atividades entre as polícias e conseqüente falta de visão do todo; ao<br />
fosso entre a cúpula e a base; às limitações, deficiências ou inexistência de mecanismos<br />
efetivos de controle externo, limitado às ouvidorias e às denúncias de violência policial, abuso<br />
de poder e corrupção; às ações e excessos contra grupos mais vulneráveis, sobretudo os mais<br />
pobres e os negros, e ao envolvimento direto em atividades criminosas, como causas da<br />
desconfiança e descrédito frente à população.<br />
As preocupações com o controle externo das polícias justificam-se porque, embora<br />
desvios de conduta profissionais sejam praticados nas mais variadas instituições e profissões,<br />
nas polícias as conseqüências são, particularmente, mais graves, colocando em jogo a<br />
integridade e a vida das pessoas. O policial, além de estar mais próximo da criminalidade e