14.10.2014 Views

INFORMAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA: A ... - Crisp - UFMG

INFORMAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA: A ... - Crisp - UFMG

INFORMAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA: A ... - Crisp - UFMG

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

145<br />

Ao atentar para a importância da construção do objeto de pesquisa chamando a<br />

atenção para o conceito de campo social Bourdieu (2002), na verdade, tem como meta<br />

romper com o senso comum, ou seja, com as representações compartilhadas por todos, no<br />

seguinte sentido:<br />

O pré-construído está por toda parte. O sociólogo está, literalmente,<br />

cercado por ele, como o está qualquer pessoa. O sociólogo tem um objeto<br />

a conhecer, o mundo social, de que ele próprio é produto e, deste modo,<br />

há todas as probabilidades de os problemas que põe a si mesmo acerca<br />

desse mundo, os conceitos – e, em especial, as noções classificatórias que<br />

emprega para o conhecer (...) – sejam produto desse mesmo objeto. Ora,<br />

isso contribui para lhes conferir uma evidência – a que resulta da<br />

coincidência entre as estruturas objetivas e as estruturas subjetivas – que<br />

as põem a coberto de serem postas em causa (p.34).<br />

Assim, aceitar ou analisar acriticamente os conceitos, problemas e as questões<br />

propostas pelo senso comum ou pela tradição social é não-construir, ou construir o já<br />

construído. Uma tal ciência – hiperempirismo positivista – retira do mundo social os seus<br />

problemas e os registra considerando-os independentes do ato de conhecer e da ciência que<br />

os realiza. Assim, o investigador social deve exercitar a dúvida radical, pois “uma prática<br />

científica que se esquece de se pôr a si mesma em causa não sabe, propriamente falando, o<br />

que faz” (p.35) e, mais do que isso, ao deixar de pensar o seu próprio pensamento um<br />

cientista social fica “condenado a ser apenas instrumento daquilo que ele quer pensar”<br />

(p.36).<br />

Para romper com essa situação, Bourdieu (2002) propõe que o investigador social<br />

se debruce sobre a história social dos problemas, objetos e instrumentos de pensamento<br />

que pretende focalizar ou usar, de forma a elucidar um “trabalho social de construção de<br />

instrumentos de construção da realidade social que se realiza no próprio seio do mundo<br />

social” (p.36), uma história interessada “em compreender porque se compreende e como se<br />

compreendem” (p.37) as coisas tal como estão colocadas naquele momento.<br />

Bourdieu (2002) fala, então, de uma conversão do olhar, de uma conversão do<br />

pensamento, de uma revolução do olhar. Nesse processo, o papel da teoria e dos<br />

procedimentos metodológicos é muito importante, pois o grande desafio do cientista social<br />

é “converter problemas abstratos em operações científicas inteiramente práticas” (p.20).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!