INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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Ao atentar para a importância da construção do objeto de pesquisa chamando a<br />
atenção para o conceito de campo social Bourdieu (2002), na verdade, tem como meta<br />
romper com o senso comum, ou seja, com as representações compartilhadas por todos, no<br />
seguinte sentido:<br />
O pré-construído está por toda parte. O sociólogo está, literalmente,<br />
cercado por ele, como o está qualquer pessoa. O sociólogo tem um objeto<br />
a conhecer, o mundo social, de que ele próprio é produto e, deste modo,<br />
há todas as probabilidades de os problemas que põe a si mesmo acerca<br />
desse mundo, os conceitos – e, em especial, as noções classificatórias que<br />
emprega para o conhecer (...) – sejam produto desse mesmo objeto. Ora,<br />
isso contribui para lhes conferir uma evidência – a que resulta da<br />
coincidência entre as estruturas objetivas e as estruturas subjetivas – que<br />
as põem a coberto de serem postas em causa (p.34).<br />
Assim, aceitar ou analisar acriticamente os conceitos, problemas e as questões<br />
propostas pelo senso comum ou pela tradição social é não-construir, ou construir o já<br />
construído. Uma tal ciência – hiperempirismo positivista – retira do mundo social os seus<br />
problemas e os registra considerando-os independentes do ato de conhecer e da ciência que<br />
os realiza. Assim, o investigador social deve exercitar a dúvida radical, pois “uma prática<br />
científica que se esquece de se pôr a si mesma em causa não sabe, propriamente falando, o<br />
que faz” (p.35) e, mais do que isso, ao deixar de pensar o seu próprio pensamento um<br />
cientista social fica “condenado a ser apenas instrumento daquilo que ele quer pensar”<br />
(p.36).<br />
Para romper com essa situação, Bourdieu (2002) propõe que o investigador social<br />
se debruce sobre a história social dos problemas, objetos e instrumentos de pensamento<br />
que pretende focalizar ou usar, de forma a elucidar um “trabalho social de construção de<br />
instrumentos de construção da realidade social que se realiza no próprio seio do mundo<br />
social” (p.36), uma história interessada “em compreender porque se compreende e como se<br />
compreendem” (p.37) as coisas tal como estão colocadas naquele momento.<br />
Bourdieu (2002) fala, então, de uma conversão do olhar, de uma conversão do<br />
pensamento, de uma revolução do olhar. Nesse processo, o papel da teoria e dos<br />
procedimentos metodológicos é muito importante, pois o grande desafio do cientista social<br />
é “converter problemas abstratos em operações científicas inteiramente práticas” (p.20).