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INFORMAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA: A ... - Crisp - UFMG

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Vê-se que o saber policial não se desenvolve isolada e independentemente dos valores<br />

sociais mais amplos que caracterizam a sociedade e a cultura de cada época. As mudanças na<br />

estratificação social implicam desorganização e reorganização da atividade policial. Essas<br />

mudanças socioculturais vêm se constituindo num dos determinantes de um processo de<br />

discussões dentro da própria polícia que aponta para a necessidade de construção de novos<br />

conhecimentos e desenvolvimento de novas habilidades profissionais que, no entanto, devem<br />

suscitar novas e renovadas formas de resistência, que ainda não foram muito bem<br />

identificadas.<br />

Freqüentemente, na sua atividade prática cotidiana, os policiais pautam-se por um<br />

intenso trabalho de tipificação (rotulação) que, como já foi dito, dá-se informalmente, ou seja,<br />

não está registrado em qualquer documento oficial. Esse costume visa, sobretudo, à redução da<br />

complexidade das situações enfrentadas e a uma economia de esforços. Sendo assim, uma<br />

determinada clientela, entre vítimas, suspeitos, criminosos, etc., sobretudo, uma clientela<br />

marginal, é classificada a partir de um aprendizado prático, informal, adquirido fora das salas<br />

de aula e de treinamento formal. O que conta é a experiência subjetiva do policial e os<br />

ensinamentos que adquiriu com seus colegas no cotidiano da profissão.<br />

Essa “clientela marginal”, que se constitui como foco principal da vigilância policial,<br />

identifica-se com as classes subalternas de tal forma que, como observa Paixão (1983),<br />

A ação dos membros da organização policial se orienta por teorias de senso<br />

comum, estereótipos e ideologias organizacionalmente formulados que, se<br />

tornam mais “econômica” a ação policial (na medida em que está orientada<br />

para a vigilância e controle de populações previamente definidas como<br />

“potencialmente criminosas”), contribuem para que a associação entre<br />

marginalidade e criminalidade assuma contornos de uma “profecia<br />

autocumprida” (p.20).<br />

Evidencia-se, portanto, na experiência e na tradição da força policial brasileira a busca<br />

de legitimação junto aos grupos dominantes e contra a sociedade, o que acaba determinando a<br />

existência de fronteiras entre policiais e cidadãos. Esse problema, segundo Paixão (1988),<br />

ainda está em pauta na agenda política brasileira. A limitação e, até mesmo, a redução do<br />

poder de polícia e o controle externo da atividade policial são condições fundamentais para a<br />

consolidação da democracia e promoção da cidadania, sobretudo nas relações sociais<br />

cotidianas e rotineiras dos grandes centros urbanos.

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