INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
147<br />
comportamento individual, impondo-lhe suas normas e valores. No segundo caso, as<br />
normas e valores são apenas possibilidades oferecidas ao indivíduo que, possuidor de uma<br />
boa margem de liberdade, pode escolher seus papéis sociais com autonomia. Nesse caso, a<br />
ação individual é explicada em termos de estratégias racionais, isto é, o indivíduo faz<br />
escolhas para maximizar resultados. No caso anterior, em vez de escolhas racionais, fala-se<br />
em ações condicionadas pela cultura, determinadas por lógicas sociais que superam o<br />
indivíduo.<br />
Entre essas duas perspectivas, a idéia de habitus surge como um elemento de<br />
mediação, e as práticas dos sujeitos sociais não são consideradas como meras execuções de<br />
regras ditadas pela cultura, mas como expressão de um sentido adquirido, isto é, de um<br />
senso prático: o habitus ou uma aptidão para agir e orientar-se de acordo com as situações<br />
nas quais se está implicado e com a posição ocupada no campo social. Graças a uma série<br />
de disposições adquiridas (ou ao habitus), não e necessário ficar recorrendo<br />
constantemente à reflexão consciente, pois há mecanismos que funcionam<br />
automaticamente (Bourdieu, 1991).<br />
O habitus é como uma grade de leitura pela qual a realidade é julgada e percebida e,<br />
simultaneamente, é o produtor das práticas individuais, estando na base daquilo que, no<br />
sentido corrente, define a personalidade de um indivíduo. Trata-se, portanto, do conceito<br />
que permite a articulação, por um processo de mediação, do individual e do coletivo.<br />
Um outro ponto para o qual se deve chamar a atenção consiste na definição do<br />
indivíduo nesse caso, muito mais um agente do que um ator social, no sentido de que o<br />
determinante da ação não se restringe apenas à busca do interesse econômico. O agente<br />
social é “agido” (do interior) tanto quanto age (para o exterior). Assim, quando Bourdieu<br />
fala numa economia de práticas, o termo deve ser entendido num sentido amplo, ou em<br />
suas próprias palavras: “há uma razão imanente às práticas, que não tem a sua origem num<br />
cálculo explícito nem em determinações exteriores aos agentes, mas no habitus destes”<br />
(BOURDIEU citado por BONNEWITZ, 2003, p.82).<br />
Como resultado de uma filiação social, o habitus também se estrutura em relação a<br />
um campo. De uma maneira geral, o campo exerce sobre seus agentes uma ação<br />
pedagógica que tem o efeito da aquisição dos saberes necessários a uma correta inserção<br />
naquele espaço de relações sociais.<br />
A relação entre o habitus e o campo é, antes de tudo, uma relação de<br />
condicionamento: o campo estrutura o habitus (...). Mas é também uma