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INFORMAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA: A ... - Crisp - UFMG

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objeto, procurando enfocar a cultura tomada em pequenos recortes, minuciosamente<br />

analisada pelo método etnográfico.<br />

Portanto, é uma imprecisão dizer que organizações e grupos humanos têm uma<br />

cultura e que essa cultura é que determina os comportamentos ali adotados. Na verdade,<br />

deve-se considerar que as instituições, organizações e os grupos humanos podem ser<br />

melhor descritos e entendidos a partir da perspectiva de sua cultura ou de um contexto<br />

cultural, que ajuda a entender o significado que as pessoas dão aos seus próprios atos,<br />

tornando-os, por assim dizer, coerentes para um observador externo que não conhece bem<br />

hábitos e costumes ali praticados.<br />

Bem entendido esse primeiro ponto, é igualmente necessário entender um segundo<br />

ponto particularmente importante na antropologia interpretativa e, sobretudo, para a CI: a<br />

cultura não é tão fixa, previsível ou padronizável como normalmente se pensa e pode ser<br />

melhor caracterizada como um conjunto de idéias que são continuamente re-trabalhadas de<br />

maneira imaginativa, sistemática, explicável, mas não previsível. Isso permite dizer que no<br />

processo de construção de informações a ambigüidade e o ruído são, em certa medida,<br />

essenciais, justamente para permitir que os processos de transformação de sentidos<br />

ocorram.<br />

Dentro dessa concepção o objeto da etnografia passa a ser considerado, de acordo<br />

com Geertz (1978), como “uma hierarquia estratificada de estruturas significantes”, a partir<br />

das quais os comportamentos, concebidos como ações simbólicas, são “produzidos,<br />

percebidos e interpretados” num determinado contexto social.<br />

O que o etnógrafo enfrenta, de fato (...) é uma multiplicidade de<br />

estruturas conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas<br />

umas às outras, que são simultaneamente estranhas, irregulares e<br />

inexplícitas, e que ele tem que, de alguma forma, primeiro apreender e<br />

depois apresentar (GEERTZ, 1978, p.20).<br />

É necessário introduzir, ainda, uma terceira questão, na verdade uma advertência,<br />

ligada à relação estabelecida entre sujeito e objeto do conhecimento na antropologia<br />

interpretativa. Ao buscar a necessária identificação subjetiva com as populações<br />

investigadas e suas práticas comunitárias, o que possibilita a apreensão de “categorias<br />

culturais” com as quais a população organiza sua própria experiência de vida social, base<br />

da investigação antropológica, os etnógrafos correm o risco de cair numa armadilha<br />

positivista, pois podem se ver tentados a atribuir às informações prestadas pelos nativos um<br />

poder explicativo absoluto.

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