INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
162<br />
Dentro da análise do discurso diz-se, então, de um interdiscurso (BRANDÃO, 1998), o<br />
que quer dizer que todo discurso, para existir, pressupõe um discurso anterior que fornece os<br />
elementos para sua constituição. É essa exterioridade histórica, antecedente ao discurso, que o<br />
sustenta, legitima e possibilita sua interpretação. Assim as falas que se verificam nas reuniões<br />
observadas e as entrevistas com membros da PM e conselheiros civis do Consep são<br />
analisadas da perspectiva de outros discursos que lhes são historicamente anteriores.<br />
Para Bourdieu (1996; 2002), o que dá às palavras o poder de manter ou subverter a<br />
ordem é a crença em torno de sua legitimidade e daquele que as pronuncia (capital simbólico).<br />
Ele chama a atenção para as características simbólicas, historicamente construídas, embutidas<br />
em cada discurso, e que perpetuamos nas nossas relações através de nosso habitus. Assim o<br />
discurso é uma das expressões do habitus, manifestando-se em opiniões sobre o mundo e suas<br />
circunstâncias.<br />
Para ter seu discurso validado num determinado espaço social, os atores precisam estar<br />
afinados com essa exteriodade histórica, que é característica de cada campo de atuação social.<br />
Caso contrário, ele não será reconhecido pelo habitus ali constituído e não conseguirá influir<br />
nos processos de decisão política. Esse raciocínio vale também para a informação sobre<br />
segurança pública, na medida em que, também ela, se valida no contexto de uma materialidade<br />
histórica.<br />
As representações simbólicas do poder também funcionam como legitimadoras dos<br />
discursos. Quem está falando? Um juiz, um professor universitário, um sindicalista, uma<br />
costureira? O efeito produzido pelo sentido de um determinado discurso é, muitas vezes,<br />
diferente em cada um desses casos, pois são diferentes as composições dos capitais.<br />
Foucault (2000) fala na interdição como um procedimento de exclusão, segundo o qual<br />
só podem falar sobre determinadas coisas aqueles que estão legitimados para tal. Nesse<br />
processo são os sistemas simbólicos, constituídos no espaço social, que vão responder pelo<br />
estabelecimento daquilo que será reconhecido ou não como legítimo. Para Bourdieu (1996;<br />
2002), eles cumprem uma função política, sendo instrumentos, estruturados e estruturantes, de<br />
imposição/legitimação que contribuem para assegurar a dominação de uma classe sobre a<br />
outra, naquilo que chamou de violência simbólica.<br />
Além disso, os sistemas simbólicos, entre eles a informação, são responsáveis pela<br />
configuração dos capitais dentro de um espaço social e se organizam a partir de três