INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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As formas de conhecimento em geral têm caráter social e enraizamento<br />
histórico, contextual e político. O senso comum, saber derivado do mundo<br />
vivido, das práticas, da experiência, do convívio, toma parte nas disputas<br />
simbólicas que se travam na sociedade em torno do poder de enunciar,<br />
classificar e nomear a realidade, tanto quanto outras formas mais<br />
sistematizadas de saber como a ciência, a arte, a literatura, a política e o<br />
direito. É o que Bourdieu denomina de “lutas pelo poder simbólico”<br />
(MARTELETO, 2002, p.79).<br />
Entende-se que na atual sociedade da informação é de fundamental importância rediscutir<br />
e re-colocar o papel do conhecimento popular, razão pela qual os movimentos sociais<br />
e comunitários, como movimentos de luta por cidadania, constituem-se como locais<br />
privilegiados de pesquisa empírica. Marteleto (2003) observa que os movimentos sociais na<br />
área da saúde vêm demonstrando o valor de se compartilhar o conhecimento técnico-científico<br />
e a prática cotidiana. De acordo com suas pesquisas, “as ONGs desenvolveram formas de trato<br />
e transferência de informação e promovem elos de comunicação inovadores se comparados às<br />
práticas vigentes nos espaços institucionais tradicionais” (MARTELETO, 2000, p. 71).<br />
De fato, se entendemos que a informação é uma construção social e, portanto, que a CI<br />
se situa no âmbito das ciências sociais, ela deve e pode buscar sua inserção nas tradições desse<br />
campo, caracterizadas por Santos (2001), pela preocupação com a “questão social”, ou seja,<br />
com as desigualdades, as opressões e a ordem/desordem autoritária que parecem acompanhar<br />
o desenvolvimento do capitalismo e, em contrapartida, com “a participação social e política<br />
dos cidadãos e dos grupos sociais, com o desenvolvimento comunitário e a ação coletiva, com<br />
os movimentos sociais” (p.18).<br />
Considerando ainda que a ciência moderna, ao construir-se, até por necessidade e<br />
circunstâncias históricas, em oposição ao senso comum, acabou por subtrair ao cidadão<br />
comum algumas possibilidades de participação cívica na construção de um entendimento do<br />
mundo e de regras efetivas de (boa) convivência social, Santos (2001) vê os movimentos<br />
organizados da sociedade civil como espaços/tempos de estranhamento e composição entre<br />
diferentes formas de conhecimento visando à transformação social. A importância dessas<br />
“comunidades interpretativas” para as ciências sociais e, particularmente para a CI, aumenta<br />
quando se admite que “a rapidez, a profundidade e a imprevisibilidade de algumas<br />
transformações recentes conferem ao tempo presente uma característica nova: a realidade<br />
parece ter tomado definitivamente a dianteira sobre a teoria” (p.18).