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INFORMAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA: A ... - Crisp - UFMG

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que é fixado pela escrita. Geertz (1997) lembra Paul Ricoeur, quando observa que “o que<br />

escrevemos é o noema (‘pensamento’, ‘conteúdo’, ‘substância’) do falar. É o significado<br />

do acontecimento do falar, não o acontecimento como acontecimento” (p.29).<br />

Na antropologia interpretativa a cultura pode, então, ser encarada como um texto,<br />

ou um conjunto de textos, passível de interpretação, e as interpretações, por seu turno,<br />

podem ser tratadas como “alegorias etnográficas” (CLIFFORD, 1998), ou seja, como<br />

detentoras de componentes de ficção e de realidade. A cultura pode ser entendida como<br />

escrita na qual se contam estórias, nas quais sentidos são criados e construídos (também)<br />

pelo pesquisador.<br />

White (2001), ao estudar o texto histórico, faz considerações acerca da natureza do<br />

trabalho do historiador, referindo-se às idéias de Collingwood, que o considerava,<br />

sobretudo, como “um contador de histórias”, cujo principal desafio seria o de “criar uma<br />

história plausível”, a partir de um amontoado de fatos que “na sua forma não processada<br />

carecia absolutamente de sentido”. Assim, o registro histórico é considerado,<br />

necessariamente, fragmentário e incompleto, pelo que é necessário ao historiador fazer uso<br />

de uma certa “imaginação construtiva”. Collingwood conclui que “os historiadores<br />

fornecem explicações plausíveis para corpos de testemunhos históricos quando conseguem<br />

descobrir a estória ou o conjunto de estórias contidas implicitamente dentro delas”<br />

(WHITE, 2001, p.100).<br />

No entanto, White (2001), indo além, observa que, na verdade, “os acontecimentos<br />

são convertidos em estória pela supressão ou subordinação de alguns deles e pelo realce de<br />

outros”. Teodoro (2003), ao comentar esse autor, diz que “as histórias são criadas graças à<br />

operação que White chama de urdidura de enredo” e que cada pesquisador se utiliza<br />

daquela que seja mais adequada àquilo que procura.<br />

Não creio que alguém aceitasse a urdidura de enredo da vida do<br />

presidente Kennedy como comédia, porém se deve ser contada à maneira<br />

romântica, trágica ou satírica é uma questão em aberto. (...) o que<br />

Michelet, na sua grande história da revolução francesa, construiu no<br />

modo de um drama de transcendência romântica, seu contemporâneo<br />

Tocqueville contou na forma de uma tragédia irônica. Não se pode dizer<br />

que um tenha mais conhecimento que o outro dos ‘fatos’ contidos no<br />

registro, apenas tinham concepções diferentes do tipo de estória que<br />

quadrava melhor os fatos que conheciam. (...) Eles perseguiam tipos<br />

diferentes de fatos porque tinham tipos diferentes de estórias para contar”<br />

(WHITE, 2001, p. 101).

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