INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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No contexto de um duplo reconhecimento, dos limites da ciência moderna frente à<br />
complexidade da realidade social, por um lado, e da importância do acesso à informação e aos<br />
saberes constituídos para resolução de problemas cotidianos, de outro, a antropologia da<br />
informação busca no trabalho de campo verificar como o encontro das diversas formas de<br />
conhecimento cria embates e barreiras entre os atores, mas também pergunta: como instaurar<br />
ações de entendimento entre essas duas formas de conhecimento sem que uma se submeta à<br />
lógica da outra?<br />
Esse reconhecimento de uma arena de disputas simbólicas, na qual se fazem presentes<br />
diferentes discursos - Estado, ciência, mercado, entidades civis, grupos comunitários,<br />
lideranças dos movimentos sociais - muitas vezes conflitantes entre si, numa polifonia de<br />
vozes, é importante porque, um pouco paradoxalmente, abre um espaço para a superação das<br />
dificuldades de convivência política e informacional no campo das práticas sociais. Nesse<br />
contexto configura-se a necessidade de um novo e desafiador trabalho de mediação que,<br />
baseado na identificação/constituição de interesses comuns, busca estabelecer novas categorias<br />
e formas de diálogo com a população, caracterizadas por uma atitude de abertura, tanto para<br />
ensinar quanto para aprender, mas, sobretudo, para construir conhecimentos em conjunto.<br />
Lembrando Foucault, quando escreveu que os intelectuais descobriram que “as massas<br />
não têm necessidade deles para saber”, embora exista “um sistema de poder que obstaculiza,<br />
que proíbe, que invalida este discurso e este saber”, Marteleto e Valla (2003) referem-se a uma<br />
crise de interpretação que tende a dificultar os processos de mediação e a uma postura comum<br />
entre os profissionais do campo da saúde que dificulta o processo de mediação.<br />
Os problemas são resultado, principalmente, da dificuldade de se aceitar e<br />
compreender como útil e válido um conhecimento produzido, organizado e<br />
sistematizado no âmbito da experiência de pessoas humildes e excluídas do<br />
sistema formal de ensino, um ambiente tão diferente daquele em que foram<br />
formados esses profissionais. A tendência é que se julguem inferiores saberes<br />
que são apenas diferentes, elaborados por meio da experiência concreta<br />
(p.17).<br />
Foi assim, na prática da pesquisa em ONG que tinham como objetivo assessorar os<br />
movimentos sociais no campo da saúde, que a noção de “terceiro conhecimento” surgiu, como<br />
produto da observação de que o conhecimento científico, por um processo de transferência<br />
informacional, ao entrar em contato com o conhecimento prático e cotidiano do senso comum,