INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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4.4.1 O conceito de habitus<br />
Com esse conceito Bourdieu procura explicar como o homem se torna um ser<br />
social. A socialização se dá pela formação do habitus, um sistema de disposições<br />
duradouras adquiridas pelo indivíduo ao longo de um processo no qual as relações sociais<br />
são apreendidas, isto é, as normas, valores e crenças de uma determinada coletividade ou<br />
classe são assimiladas. Através da família (socialização primária) e da educação escolar<br />
(socialização secundária), esquemas de percepção e ação são aprendidos numa perspectiva<br />
da classe social à qual o indivíduo pertence. Ele adquire uma disposição para reproduzir<br />
espontaneamente, por seus pensamentos, palavras e ações, as relações sociais estabelecidas<br />
por ocasião da aprendizagem.<br />
É nesse sentido que o habitus é considerado um mecanismo de interiorização da<br />
exterioridade, no qual sujeitos situados em condições sociais diferentes vão adquirir<br />
disposições diferentes. Inscrito no sujeito, o habitus primário passa a condicionar as<br />
experiências subseqüentes, ou seja, a aquisição de novas disposições pelo indivíduo<br />
(habitus secundário).<br />
Embora crie disposições fortes e duradouras, essa estrutura interna não é<br />
inteiramente fixa, pois está sempre se reestruturando, como resultado que é da experiência<br />
passada em confronto com o presente. Assim, as práticas e representações individuais não<br />
são nem totalmente determinadas, pois os agentes fazem escolhas, nem totalmente livres,<br />
pois as escolhas são orientadas pelo habitus.<br />
Essa reestruturação, entretanto, de acordo com Bourdieu (1991) não deve ser<br />
entendida como um processo incessante que se dá facilmente e ao sabor das circunstâncias<br />
vividas. Na verdade, o habitus apresenta uma forte inércia, e cada indivíduo é apenas uma<br />
variante do habitus de sua classe social. A questão deve ser entendida como uma<br />
homologia, ou seja, como uma “diversidade na homogeneidade” (p.104). Pode-se falar, de<br />
maneira simplificada, que as diferentes personalidades individuais são, na realidade,<br />
variantes de uma personalidade social. Numa analogia estatística, pode-se falar na<br />
existência de um habitus modal, mais freqüente, ligado a determinada classe social, em<br />
torno do qual se dá uma dispersão correspondente às individualidades, à história<br />
individual.<br />
Com esse conceito Bourdieu (1991) pretendeu superar uma oposição, que considera<br />
artificial, presente nas teorias sobre a socialização, entre objetivismo e subjetivismo. No<br />
primeiro caso, considera-se que a sociedade exerce uma forte coerção sobre o