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INFORMAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA: A ... - Crisp - UFMG

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apresentando-se como alternativa, quer ao uso privado da força, quer a<br />

intervenção – esporádica e quase sempre truculenta – dos exércitos nos<br />

conflitos sociais. Seu desenvolvimento refletiu o processo de construção do<br />

Estado de direito no ocidente, traduzindo em novos tipos de arranjos<br />

institucionais o projeto de produzir paz interna e segurança pública por meios<br />

pacíficos, impessoais, contínuos e estritamente submetidos à ordem legal. No<br />

entanto, a concretização desse projeto nunca deixou de ser problemática,<br />

mesmo em países onde a cultura política liberal e a defesa dos direitos<br />

universais de cidadania se enraizaram mais profundamente nos últimos<br />

duzentos anos (p.23).<br />

Essas práticas de controle social, bastante inovadoras para a época, não implicaram, no<br />

entanto, uma nova percepção em relação aos agentes e situações considerados como focos de<br />

ações criminosas. Pelo contrário, as “classes perigosas”, os movimentos de reivindicação<br />

política e a periferia social continuaram a ser objeto de maior vigilância e alvo privilegiado da<br />

ação repressiva do Estado (SOUZA, 1999). O que houve foi uma modernização<br />

administrativa, à qual não correspondeu, entretanto, um aprofundamento na compreensão do<br />

fenômeno da criminalidade. A vigilância mais organizada e de melhor qualidade não se<br />

orientou por um conhecimento renovado do fenômeno desviante e de suas causas, ou seja,<br />

como um problema ligado à interpretação de fatos sociais com suas múltiplas e complexas<br />

determinações.<br />

De acordo com Paixão (1991a), a polícia inglesa moderna buscou, desde seu início,<br />

legitimação pública usando policiais desarmados (os bobbies, chamados gafanhotos azuis),<br />

considerando que o estabelecimento de laços sólidos de confiança recíproca entre cidadãos e o<br />

Estado, mais que o uso de armas e da força, desestimularia o crime e garantiria a paz social. O<br />

policial, nessa perspectiva, torna-se um “empreendedor moral”, difusor de valores da<br />

sociedade vitoriana junto às camadas populares. Para Robert Peel, considerado o primeiro<br />

chefe de polícia, o papel da instituição era conter a violência criminosa que assolava a<br />

Inglaterra no início do século XIX, adotando uma postura disciplinadora, educando a<br />

sociedade dentro dos princípios normativos da nova ordem vigente. De acordo com Paixão<br />

(1991a):<br />

O papel da polícia era levar às classes populares os valores civilizados da<br />

elite: nada de brigas, nada de violência, cobiça, vadiagem e bebedeira. A<br />

polícia deveria complementar, no espaço público da rua, o esforço das<br />

escolas, igrejas e fábricas em colocar a casa do pobre em ordem (p.39).

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