INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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O segundo, de cunho metodológico, diz que a análise sociocultural não tem<br />
referência na ciência experimental, ou seja, aquela que busca leis e generalizações, mas na<br />
ciência interpretativa, que busca o significado e o sentido. A hermenêutica-dialética,<br />
considerada como um método articulador da compreensão e da crítica, as contribuições do<br />
método etnográfico e a teoria dos campos sociais são utilizadas, não só na<br />
definição/abordagem do objeto, mas como apoio na realização de uma análise<br />
sociohistórica e de uma descrição minuciosa das dinâmicas informacionais de um grupo<br />
social como o Consep.<br />
É importante notar uma particularidade quanto ao significado dessa aproximação do<br />
método etnográfico na CI. Sabe-se que tem suas raízes numa tentativa da antropologia de<br />
romper com o evolucionismo (linear) e com uma abordagem etnocêntrica que via as<br />
diversas culturas numa perspectiva naturalista. Considera-se que é possível traçar um<br />
paralelo entre essa crítica, feita por etnógrafos como Frans Boas aos antropólogos<br />
clássicos, e aquela que González de Gómez (1984) faz aos cientistas da informação que,<br />
baseando-se no paradigma físico e cognitivista, vêem a informação apenas como redutora<br />
de incertezas. Essa perspectiva é expressão de um naturalismo, ainda muito presente na CI,<br />
no qual, como já foi dito, se desconsidera que cada grupo social constrói uma consciência<br />
comum que estrutura suas práticas informacionais. Isso quer dizer que o sujeito<br />
(usuário/receptor-construtor/emissor) da informação não é um produto de mecanismos<br />
biológicos, naturais e deterministas, mas assume um caráter sociohistórico, no qual se<br />
constitui a partir dos interesses, conflitos e contradições próprios de sua classe ou grupo<br />
social.<br />
Assim, o uso de princípios metodológicos da etnografia em CI tem esse significado<br />
adicional: torná-la menos etnocêntrica, na medida em que permite abandonar o estudo<br />
exclusivo da informação ligada a uma cultura douta, documental, registrada, podendo<br />
constituir-se num guia para o entendimento da informação na prática cotidiana das pessoas<br />
comuns (senso prático), sobretudo ao se organizarem em grupos para resolver seus<br />
problemas. É isso que procura fazer a antropologia da informação: re-valorizar esse tipo de<br />
saber prático e cotidiano, sobretudo quando interage com os conhecimentos científicos,<br />
naquilo que conceituou como terceiro conhecimento.<br />
Procurou-se, dessa forma, um lugar de onde fosse possível olhar os fatos<br />
investigados e dali ter uma visão que, por sua vez, permitisse ao pesquisador analisá-los,<br />
contando uma estória, entendida como um misto de realidade e imaginação (sociológica).<br />
Esse lugar, que é, em grande medida, o da antropologia da informação, além de levantar