INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
41<br />
um programa para facilitar a compra desse equipamento pelas famílias de baixa renda, o que<br />
redundou numa drástica redução das ocorrências.<br />
A ineficiência ou inexistência de serviços de assistência social podem contribuir para a<br />
perpetuação de problemas dessa natureza e também, fazem com que a polícia seja chamada,<br />
freqüente e reiteradamente, pela população, para atuar nas crises e conflitos nos quais a<br />
violência aparece como componente real ou potencial. Espera-se dela uma ação pacificadora,<br />
pois acaba representando, nessas situações, mais do que qualquer outra instituição social, uma<br />
referência de autoridade importante para a comunidade, sobretudo, por parte daqueles que não<br />
contam com qualquer outra estrutura de apoio social, como hospitais, escolas e, até mesmo,<br />
delegacias. Observa-se que, mesmo quando não existem normas legais para orientar uma<br />
tomada de decisão frente a determinados problemas, os policiais são considerados<br />
representantes da lei.<br />
De fato, as pesquisas sobre o trabalho de policiais mostram que eles empregam a maior<br />
parte do seu tempo em atividades de cunho social, lidando com situações imprevistas que<br />
exigem raciocínio, sensibilidade para coletar e selecionar informações relevantes, interpretar<br />
situações, negociar e dialogar com pessoas da comunidade (Souza, 1999). Pode-se dizer,<br />
então, que a polícia atua, muitas vezes, no limite entre a ordem e a transgressão, e suas<br />
decisões nem sempre significam conformidade absoluta à regra legal, pois os policiais tendem<br />
a agir de acordo com normas particulares relacionadas com pessoas, grupos e tudo o mais que<br />
diga respeito à ordem em diferentes situações (locais) e/ou momentos (horários). Assim, como<br />
já foi comentado, mais do que seguir preceitos legais e aplicar irrestritamente a lei, o policial<br />
orienta-se por conhecimentos práticos, socialmente construídos, a respeito de quais<br />
comportamentos são apropriados para determinados indivíduos e daquilo que pode ser<br />
considerado ordem num determinado contexto.<br />
Entretanto, esse conhecimento profissional prático (tácito), quando construído sem a<br />
participação efetiva das comunidades locais, que também dispõem de conhecimentos<br />
específicos, pode afastar (perigosamente) os policiais dos cidadãos, justamente daqueles que<br />
lhes dão legitimidade. Um dos fatores que distancia polícia e comunidade está ligado à cultura<br />
da organização, que, ao dar preferência às funções legais (law officers), demonstra dificuldade<br />
em incorporar o seu papel social, o que contribui para estigmatizar os policiais como agentes<br />
superiores aos cidadãos civis. A essa crença correspondem percepções coletivas ambivalentes