INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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relativizar a própria cultura. Em última instância, ele propunha que o próprio pesquisador<br />
aprendesse algo mais sobre si mesmo.<br />
De fato, segundo Da Mata (1987), o objetivo da etnografia seria o de transformar a<br />
experiência do pesquisador em sabedoria por meio de uma dupla tarefa: a transformação<br />
do exótico em familiar e do familiar em exótico. Isso significa, muitas vezes, experimentar<br />
outros modos humanos de vida e, mais que isso, transformar tal conhecimento em<br />
sabedoria, pois, ao procurar ver o mundo da perspectiva e com os olhos daqueles que<br />
pesquisa e sentir o mundo como eles mesmos o sentem, o objetivo final do pesquisador é<br />
enriquecer e aprofundar sua própria visão de mundo e de seus leitores.<br />
No presente caso, em que o movimento se dá na direção do estranhamento do<br />
familiar, cultiva-se um pressuposto e uma postura intelectual de que muito pouco se sabe<br />
acerca das pessoas e ambientes que irão constituir o objeto de estudo. Trata-se de fazer<br />
disso uma estratégia de investigação que, por sua vez, ajuda o investigador a minimizar<br />
seus próprios preconceitos (BOGDAN; BIKLEM, 1994, p. 83).<br />
4.3.1 A antropologia interpretativa e a descrição densa das comunidades<br />
Geertz (1978) defende um conceito de cultura essencialmente semiótico e adota<br />
como pressuposto de seus trabalhos a crença weberiana de que o homem é um animal<br />
amarrado às teias de significados que ele próprio teceu. Essas teias seriam a cultura ou<br />
sistemas entrelaçados de signos interpretáveis. Assim, ao dizer que um pensamento deve<br />
ser entendido etnograficamente, quer dizer que deve ser entendido através de uma<br />
“descrição daquele mundo específico onde esse pensamento faz algum sentido” e, por<br />
etnografia, deve-se entender esse trabalho de descrição.<br />
Isso quer dizer que a cultura não é tomada, como muitas vezes é feito, como um<br />
poder que modela o comportamento dos homens ou como algo ao qual se possa atribuir a<br />
causa ou se considerar como determinante de comportamentos, sistemas, organizações ou<br />
instituições sociais (MASCARENHAS, 2002). Na realidade, a cultura deve ser<br />
considerada como um contexto, no qual essas coisas podem ser descritas de forma<br />
inteligível ou com densidade (GEERTZ, 1978), e tratada como um fator substantivo. Não<br />
é, portanto, um sistema formal, fechado, coerente, reconhecível como padrão por um<br />
grupo, como o seria numa perspectiva estritamente estruturalista, um tipo de abordagem<br />
incompatível com a análise cultural, que tem na lógica informal da vida real o seu principal