INFORMAÃÃO E SEGURANÃA PÃBLICA: A ... - Crisp - UFMG
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Chama, então, a atenção para a necessidade de considerá-lo não como uma apreensão casual<br />
da realidade mas como “uma sabedoria coloquial que julga e avalia essa realidade” e, com<br />
base na antropologia interpretativa proposta por Geertz, assume que o senso comum elabora<br />
discursos, sentidos e informações “que conformam um sistema cultural”. Este, mesmo não<br />
sendo muito bem integrado, tem valor e legitima-se pela experiência concreta da vida, da<br />
mesma forma como fazem, entre outros, a ciência, pela metodologia; a arte, pela estética; a<br />
religião, pela revelação, e a ideologia, pela paixão moral (MARTELETO, 2002, p.111).<br />
Por outro lado, observa também que a ideologia tem se tornado um poderoso meio de<br />
produção de sentidos consensuais, sobretudo nas sociedades de massa, onde não se podem<br />
mais distinguir com clareza as diferenças culturais (ligadas aos diferentes modos de vida).<br />
Salienta, portanto, que, no contexto da disputa simbólica, é importante ter como estratégia das<br />
ações coletivas a produção de conhecimentos que sejam capazes de ver além daquilo que a<br />
ideologia tende a obscurecer.<br />
Marteleto (2002) lembra Gramsci, para quem “se não formos críticos e conscientes<br />
seremos massa e, nesse caso, a subjetividade não se expressa”, e observa que a presença<br />
maciça da tecnologia trouxe a abundância da informação, sobretudo naquilo que tem sido<br />
chamado de realidade virtual, mas não superou, de um ponto de vista político, uma<br />
permanente redundância, o que deve ser entendido como uma referência ao discurso<br />
hegemônico e ideológico do neoliberalismo. Isso quer dizer que a sociedade passou a absorver<br />
muita informação, porém sem gerar respostas, e o indivíduo, atomizado, só alcança expressão<br />
no domínio privado, individual e, portanto, como consumidor. Porém, expressar-se como<br />
consumidor não é a mesma coisa que se expressar como cidadão.<br />
Ocorre que a informação passou a ser dominada pela referência a uma performance<br />
quase que exclusivamente tecnológica e empresarial. Bem entendido, a autora observa que não<br />
se trata de dar à discussão uma conotação moral, pois isso faz perder a criatividade, a<br />
capacidade de representar e de mudar, mas de chamar a atenção para o sujeito, tomado como<br />
fonte e, portanto, como eixo central da problemática informacional.<br />
Reside aqui uma das principais afinidades desta investigação com a antropologia da<br />
informação, que pode ser contextualizada no âmbito dos estudos de usuários da informação,<br />
pois atenta para as práticas dos sujeitos utilizando, construindo e apropriando-se de<br />
conhecimentos e informações com a finalidade de resolver seus problemas cotidianos.