Download do livro - Faculdade de Direito - Universidade de Coimbra
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Fernanda Paula OliveiraA <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> carácter vincula<strong>do</strong> ou regula<strong>do</strong> não po<strong>de</strong>, no entanto,ser entendi<strong>do</strong> como a recusa <strong>de</strong> qualquer po<strong>de</strong>r discricionárioda Administração. Como afirma Alves Correia, o carácter vincula<strong>do</strong>ou <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> da licença tem <strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma mais limitada ( 196 ).De facto, se é verda<strong>de</strong> que a Administração municipal está vinculadaaos fundamentos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>ferimento previstos na lei, estan<strong>do</strong> impedida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>ferir tais pedi<strong>do</strong>s por motivos diversos <strong>do</strong>s <strong>de</strong>la constantes, talnão significa, no entanto, que a Administração não disponha <strong>de</strong> umacerta discricionarieda<strong>de</strong> na respectiva apreciação, uma vez que, ao indicaralguns <strong>do</strong>s fundamentos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>ferimento, o legisla<strong>do</strong>r utilizaconceitos abertos ou in<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s (in<strong>de</strong>terminações conceituais).É o caso <strong>do</strong> fundamento <strong>de</strong> in<strong>de</strong>ferimento legalmente indica<strong>do</strong> <strong>de</strong> aobra ser “susceptível <strong>de</strong> manifestamente afectar (…) a estética das povoações,a sua a<strong>de</strong>quada inserção no ambiente urbano ou a belezadas paisagens…” (n.° 4 <strong>do</strong> artigo 24.°) ou <strong>de</strong> a operação urbanística“…constituir, comprovadamente, uma sobrecarga incomportável paraas infra-estruturas…” [alínea b) <strong>do</strong> n.° 2 <strong>do</strong> artigo 24.°). Trata-se, nitidamente,da utilização <strong>de</strong> conceitos in<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s tipo ( 197 ), que,no entendimento da <strong>do</strong>utrina mais mo<strong>de</strong>rna, correspon<strong>de</strong> a um reconhecimento,por parte <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r, da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prever, noseu recorte hipotético, todas as situações, bem como a <strong>de</strong> manusear osfactos concretos da vida, e, em consequência, o reconhecimento <strong>de</strong> umespaço <strong>de</strong> discricionarieda<strong>de</strong> à Administração. De acor<strong>do</strong> com uma noçãoampla <strong>de</strong> discricionarieda<strong>de</strong> como aquela que vem sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>fendidana senda <strong>de</strong> Rogério Soares, esta correspon<strong>de</strong> a um espaço próprio <strong>de</strong><strong>de</strong>cisão da Administração, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> uma in<strong>de</strong>terminação legalque abrange também as situações <strong>de</strong> in<strong>de</strong>terminação conceitual ( 198 ).Para além da utilização <strong>de</strong> conceitos in<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s na indicação<strong>do</strong>s fundamentos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>ferimento das pretensões urbanísticas <strong>do</strong>s( 196 ) Correia, Fernan<strong>do</strong> Alves, As Gran<strong>de</strong>s Linhas da Recente Reforma <strong>do</strong> <strong>Direito</strong> <strong>do</strong>Urbanismo Português, cit., p. 129.( 197 ) Sobre a noção <strong>de</strong> conceitos in<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s tipo e a sua distinção <strong>de</strong> outros tipos<strong>de</strong> conceitos in<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s (classificatórios e subjectivos), vi<strong>de</strong> Rogério Soares, <strong>Direito</strong> Administrativo,sem data, pp. 65-66.( 198 ) Sobre esta concepção <strong>de</strong> discricionarieda<strong>de</strong>, vi<strong>de</strong> Rogério Soares, <strong>Direito</strong> Administrativo,cit., pp. 59-86; José Carlos Vieira <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, “O Or<strong>de</strong>namento Jurídico AdministrativoPortuguês”, in Contencioso Administrativo, Associação Jurídica <strong>de</strong> Braga, 1986, pp. 41e segs.202