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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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“Primeira crise origenista”. Elas não dizem respeito a Evagro senão<br />

indiretamente ainda, mas suas consequências não deixaram de ser pesadas.<br />

Evagro pertencia a um grupo de ascetas muito estimados e cujo número estava<br />

longe de ser insignificante, e ao qual os adversários tratavam como “origenistas”<br />

(no sentido pejorativo). E de fato, eles extraíam de preferência dos tesouros da<br />

grande escola dos teólogos alexandrinos, de Clemente a Dídimo o Cego, e<br />

também de Orígenes, justamente. Por motivos que permanecem obscuros, uma<br />

violenta oposição levantou-se por esta época dentre a massa de monges iletrados<br />

contra seus irmãos “origenistas”, que de resto não eram todos tão “letrados”<br />

assim. O ponto litigioso, aparentemente, era a questão de saber se Deus tinha<br />

uma “forma”, como se podia supor pela leitura do Gênesis (I, 26 ss), ou se este<br />

versículo deveria ser tomado no sentido figurado, como faziam Orígenes e seus<br />

discípulos, porque sendo imaterial Deus deveria também ser sem forma. Nos<br />

seus 153 capítulos “Sobre a prece”, Evagro defende resolutamente este último<br />

ponto de vista.<br />

Reputado por suas palinódias, o patriarca Teófilo em sua carta da Páscoa de 399<br />

começou por condenar com a maior firmeza o “antropomorfismo” dos<br />

adversários de Orígenes. Amigo pessoal dos “origenistas”, ele havia tomado<br />

muitos bispos dentre as suas fileiras. Mas sob a intensa pressão das massas<br />

inflamadas, ele não tardou a mudar de partido e começou a condenar Orígenes e<br />

seus partidários a ponto de atacar seus antigos amigos com forças armadas no<br />

ano 400. O historiador eclesiástico Socrate (c. 380-450) que tinha à disposição<br />

fontes hoje perdidas, atribui a Teófilo motivos desonestos e puramente pessoais,<br />

para sua mudança de opinião.<br />

Seja como for, os “origenistas” perseguidos fugiram; mais de trezentos monges<br />

foram implicados nestes eventos. Muitos dentre eles foram para a Palestina;<br />

Amonios e seus irmãos seguiram até Constantinopla aonde João Crisóstomo os<br />

acolheu. Com o ataque conjunto de Epifânio de Salamina e de Jerônimo, o<br />

conflito ameaçou ganhar dimensões internacionais de política eclesiástica: era a<br />

velha rivalidade entre Alexandria e a “nova Roma” que entrava em jogo<br />

novamente. Não trataremos agora dos desdobramentos dos eventos. O conflito<br />

entre Teófilo e os “origenistas” foi conduzido de modo tão impenetrável quanto<br />

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