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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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CONTRA OS OITO PENSAMENTOS.<br />

12) e a torna capaz de receber “a ciência (...) que chega a nós pela graça de<br />

Deus” (Gn., 45).<br />

CAPÍTULO 29<br />

Eis o que dizia nosso mestre santo e prático: é preciso que o monge esteja<br />

sempre pronto, como se ele fosse morrer amanhã, e, inversamente, que ele<br />

use seu corpo como se tivesse que viver com ele por inúmeros anos. Isto,<br />

com efeito, dizia ele, afasta os pensamentos da acídia e torna o monge mais<br />

zeloso e, por outro lado, mantém seu corpo em boa saúde, e mantém<br />

sempre constante sua abstinência.<br />

Uma apreciação errônea desta vida terrestre e de suas vicissitudes constitui um<br />

outro aspecto da acídia. Ela sobrecarrega e constrange aquele que é atingido com<br />

a idéia de que a vida é muito longa (cf. Pr., 12), e por conseguinte bastante<br />

penosa a vida do monge (cf. Ant., VI, 14.25), e muito amarga a velhice passada<br />

na pobreza (cf. Ant., VI, 32), além de outras coisas do gênero. A título de<br />

“resposta” (antirrhesis), neste contexto, Evagro cita estas passagens da Escritura<br />

cujas verdades ajudam a combater estes pensamentos de uma pusilanimidade<br />

pouco comprometida com a realidade: “Os dias do homem são como a erva e as<br />

flores do campo...” (Sl. CII, 15) e “Nascemos ontem, e nada sabemos; nossa<br />

vida, uma sombra sobre a terra” (Jó, VIII, 9).<br />

Segundo as palavras de seu mestre Macário o Grande – e atestada muitas vezes –<br />

o homem deve viver corajosamente, face à morte que, talvez amanhã mesmo, o<br />

surpreenderá. Trata-se, propriamente falando, do “exercício da morte”, ao qual<br />

Evagro consagra todo o capítulo 52 do Praktikos. Todos os pensamentos de<br />

acídia perdem sua importância diante da morte sempre possível. O<br />

constrangimento deixa o lugar para o zelo: enquanto for dia, é preciso trabalhar!<br />

Viver assim conscientemente com a morte diante dos olhos não implica nenhum<br />

desprezo pelo corpo, desprezo que Evagro recusa constantemente (cf. Pr., 52).<br />

Tanto ele ensina a suportar as doenças como efeitos da Providência, dando<br />

graças por elas (Pr., 40), como, de outro lado, ele se afasta de toda ascese<br />

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