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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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185<br />

CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS<br />

Neste capítulo que sem dúvida era o último de uma versão mais antiga do<br />

Praktikos, Evagro reúne em poucas palavras a essência e o objetivo da praktiké,<br />

como se deduz mais claramente ainda de um scholion ao mesmo Salmo CXXVI:<br />

“Aqueles que semeiam com lágrimas, colhem com alegria”: aqueles que<br />

cumprem com a praktiké com penas e lágrimas “semeiam com lágrimas”.<br />

Por outro lado, os que recebem o conhecimento sem penas “colhem com<br />

alegria”. Mas é preciso estar atento a estas palavras: é de posse das<br />

sementes da virtudes que todos nós entramos nesta vida. E como as<br />

sementes são acompanhadas de lágrimas, também a alegria acompanha<br />

as espigas. (in. Ps., CXXVI, 5)<br />

A praktiké é esta “porta estreita” de que fala o Evangelho (Mt., VII, 13) e que, à<br />

primeira vista, parece não se abrir ante a alegria mas apenas diante do<br />

sofrimento. Na sequência, porém, ela provoca naqueles que se aplicaram estes<br />

“frutos da justiça” (in Ps., XVI, 3c), das quais “nasce a árvore da vida” (Prov.,<br />

XI, 30), símbolo da sabedoria para Evagro (in Prov., III, 18/G.32). A praktiké é<br />

como o “bastão” do pedagogo que “castiga” (e educa) (in Ps., XXII, 4c). Ela é<br />

como o “deserto”, aonde “Israel teve fome e sede e foi tentado” (in Ps.,<br />

CXXXVI, 6c); em resumo, ela se liga às “penas” (in Ps., XXIX, 12) e ao<br />

“esforço” (in Ps., CXXVII, 2c)<br />

Como sempre sublinha Evagro, todos, ao entrar na vida, possuem as “sementes<br />

de virtude” que foram “depositadas na alma desde o princípio” (in Ps.,<br />

CXXXVII, 7). Resta portanto “semear com lágrimas” nesta vida, com a<br />

esperança de “colher” um dia, “com alegria”, as “espigas do verdadeiro<br />

conhecimento” (Ep., X, 3).<br />

Assim como uma vida direita é cumprida entre lágrimas e tentações,<br />

também o conhecimento se manifesta em exultação e alegria. (in Ps., XXX,<br />

6)<br />

Mas no duro labor dos seus “seis anos de praktiké” (K.G., V, 8) e em meio ao<br />

“forte calor que dela resulta” (in Prov., XIX, 12/G. 195) e que o “queimou”<br />

(M.C., 18) como Jacó (cf. Gen., XXXI, 39ss), em quem Evagro enxerga o

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